Não pense muito, só sinta. Feche seus olhos e tente se lembrar. Ele pode ser o cara da faculdade, ou o melhor amigo do seu ex-namorado. Definitivamente, ele pode ser qualquer pessoa. Não importa quem ou quando, você vai conhecê-lo. Cretinos existem em todos os lugares. Azar ou sorte de cruzar com eles, isso é você quem vai dizer.

O que eu conheci, foi na escola. Segundo ano, apresentado por uma colega de turma. No normal ele não seria um cara que me chamaria a atenção, mas a gente se parecia – segundo minha amiga. E se a gente se parecia, eu deveria olhar para ele com maior cuidado. E com tempo. Ainda me lembro da primeira vez que o vi usando aquele uniforme branco com azul marinho; era branco feito giz, os olhos pretos como o breu do escuro. Era imperativo, sorria toda hora. Tinha olhos esquisitos, pareciam sempre que iriam me devorar. Sempre aquela mesma sensação de invasão eminente.

Não era preciso muito para entender que ele parecia tentar descobrir o que eu estava pensando quando eu preferia não falar nada, sem contar que ele sempre vinha com aquela história de beijo no rosto perguntando o porque que eu sumi durante a semana. Sempre queria saber o que eu estava fazendo, o que eu queria para o final de semana. Muita gente provavelmente devia achá-lo antipaticíssimo na época, mas eu achei idiota, estranho até, mas não antipático. O adjetivo seria grosso, mas era um grosseiro incomum. Naquela época, era impossível sentir-me à vontade perto dele, não porque sua presença era desagradável, mas porque a gente pressentia que ele estava sempre tentando se aproximar de uma maneira incomum, mas intensa.

Hoje as coisas mudaram, é claro. Nós nos enfrentamos milhares de vezes. Tivemos embates, discussões, gritarias desnecessárias pelo o telefone e beijos sôfregos no escuro. Hoje somos outras pessoas, hoje seguimos outros caminhos, e possivelmente nos conhecemos muito mais e de uma forma melhor. Talvez eu esteja fantasiando, sei lá. Mas a impressão quando eu o conheci foi forte, nunca ninguém tinha me desconcertado tanto. Pouco depois eu descobri mais algumas coisas, e até a última vez que esbarrei com ele naquele show na cidade, ele continuava sendo um cretino. Que sorte.