Ela te colocou no bolso, não foi? Colocou mesmo e, quem diria, você caiu no conto do vigário. Não adianta fingir que não é verdade, pois sabemos que sim. Você se deixou levar sem se dar conta de que por trás de toda essa confusão, ela é o furacão que está tirando sua paz há dias. Roubando seu sono por meses. Não adianta passar a mão na nuca, dar esse sorriso despretensioso e dizer que eu entendi errado, porque quem entendeu essa matemática errada foi você. Quem tá sendo coadjuvante em um roteiro batido é você, não eu. Não adianta negar, agora já foi e todo mundo sabe: ela te colocou no bolso, rapaz.

Ela é melhor jogadora que você. Nesse jogo, ela decorou os passes, aprendeu as manhas e dominou a torcida. Xavecou o juiz, deitou no chão e até fez pose. Ela te colocou no bolso e você nem se deu conta. Na verdade, você até se deu – mas não ligou, não é mesmo? Porque ela é bonita demais. Porque ela tem esse sorriso lindo, essa leveza ao andar e essa voz que mais parece um canto de sereia.

Eu sei que ela é incrível, e você sabe também. Mas cuidado, querido, você vai se afogar. Ela te colocou no bolso no segundo em que te conheceu e toda aquela independência dela apertou seu coração de gelo e te fez pensar: “seria bacana conhecê-la um pouco mais”. É, seria mesmo. Sempre é. O problema é que você tem se aberto e esperado o que não vem. Ela não fala de si mesma, ela não abre espaço e nem sequer esvazia uma gaveta para você colocar suas roupas. Para você, ela é moradora fixa. Para ela, você não é nem visita. Ela te colocou no bolso, campeão, e nem precisou de muito.

Ela é o motivo do seu sorriso, a sensação gostosa no seu peito, mas será a dor quando enfim você se der conta de que ela não vai partir – e sim que ela já partiu, porque de fato nunca ficou. Não deixa o sorriso dela te convencer do contrário. Não deixa o carinho que ela faz te roubar o ar por um segundo ou dois. Não deixa ela te convencer de que ela se importa. Ela é jogadora melhor que todos nós. Somos miseráveis aprendizes e inexperientes amantes, ela, já doutoranda em uma arte que não conseguiremos nunca dominar. Ela não é mulher para qualquer homem, e nós somos homens comuns. Entregues, apaixonados e conscientes de que estamos seguindo para a forca: mas sorrimos, porque ela está lá, no final da tábua. Sorrimos porque ela é o carrasco. E se ela resolver me matar, morro com a paz de estar no caminho certo. Afinal… ela também me colocou no bolso.