E mais um dia amanheceu, me lembrando de como a vida é amarga. O sol entrava pelas falhas da cortina, revelando que a casa estava desarrumada, e que seu cheiros já havia deixado aquele lugar. Ali, só restava o cheiro de café frio, orvalho da manhã e pasta de dentes. Eu rolo na cama, tateando o lado no qual você costumava se deitar, e suspiro vendo que mais uma vez a realidade não me falhou, e me fez ver o que realmente existia: a sua ausência. A sua falta, a saudade enorme e desesperadora que eu tenho de ti.

Eu levanto, ainda cansada, fazendo com que eu me pergunte quando é que eu vou dormir e acordar bem. Balanço a cabeça, rindo de mim mesma: sem você aqui, eu acho que isso não vai acontecer. Pelo menos, não tão cedo. Vou pro banheiro, lavo o rosto, escovo os dentes e prendo o cabelo em um rabo-de-cavalo, só para tentar me convencer de que estou animada com o dia que se inicia. O espelho reflete o meu desespero interior e mostra como é difícil sem você aqui. Já na cozinha, não como nada. Não sinto fome, não sinto vontade, não sinto frio nem calor, só sinto saudade.

Quando resolvo encarar a sala, em uma tentativa falha de arrumar as coisas e juntar os pares de sapatos em um canto, me vejo jogando as roupas no cesto de roupa sujas e abafando a minha irritação. A casa parece a mesma, só não é a mesma sem você. As janelas, embaçadas pelo orvalho da manhã me lembram das madrugadas de chuva onde nós costumávamos fazer amor sem pensar em mais nada, e em como rolar na cama nos atrasaria. Na televisão, depois de tentar apagar seus rastros pela casa, pego-me chorando durante aquele filme de romance que você sempre dizia e que lembrava nosso amor. Suspiro, desligando a TV, e volto pra cama. O trabalho só se anuncia na parte da tarde, e eu nunca imaginei que gostaria tanto de deixar meu lar pelo o motivo errado. Quando volto a noite, rendo-me para a casa outra vez. Dormir se transformou no melhor remédio pra te esquecer, embora nos sonhos eu ainda insista em te encontrar.