Já fui chamada de louca. De sem noção. De garota que não tem senso nenhum. De vinte e dois. De bêbada. De doida. Depois de tanto tempo acho que a melhor definição continua sendo intensa.

Foi em uma conversa de bar que um colega antigo jogou na roda que me achava doida demais. Que eu era linda, incrível, inteligente e muito focada, mas que as vezes eu largava isso tudo pra encher a cara num bar ou então viajava de madrugada pra uma cidade a 500km só pra ir pra uma festa de um amigo, sem avisar a ninguém. Criticou o fato de eu preferir estar solteira do que começar a namorar um dos caras com quem eu saía. “Mas é que não pega bem”, “Você tem que se valorizar, ficar quietinha”, “Não enche a cara não”.

Basicamente, criticou meu jeito de ser. Jeito esse que eu custei aprender a aceitar e a lidar. Eu sou doida mesmo. Sou intensa, impulsiva e às vezes, até precavida demais. Às vezes estou muito animada e às vezes só quero ficar embaixo das cobertas comendo pizza. Tiago, meu ex-colega, ô Tiago, querido. Tiago me ajudou a perceber que sempre vão tentar te classificar em um tipo. E eu não tô falando daquela ladainha de menina pra namorar e pra ficar. Tô falando de uma coisa ainda mais importante e forte, tô falando de quem você é. De como você se enxerga.

As pessoas vão sempre tentar entender porque você pisa com o pé direito primeiro, porque pula ladrilhos coloridos e porque você só toma café sem açúcar. Se usa saia curta é puta, se usa roupa demais é puritana. Gente que fuma é viciado, se bebe muito é alcoólatra. Tem problema na família. Péssima relação com os pais. Dá pra todo mundo só pra chamar atenção. É bissexual só por modinha. Sinceramente, não me diz respeito e nem me interessa se você só come fruta no café da manhã e de noite come gelatina de uva, e se não comer não dorme. Não me importa. Eu não vou tentar te classificar em tipos, porque tentaram fazer isso comigo. Tentaram entender e condenar cada atitude minha. Tentaram moldar minhas escolhas para me colocar em padrões como “desesperada por atenção” ou “mulher em crise”, e isso é baixo. Muito baixo. Tem pessoas que não se importam. Tem pessoas, assim como eu julgo que eu seja, que aprendem com isso. No entanto, há muitas outras que se abalam. Se condenam. Passam a se odiar. E entrar em um relacionamento de ódio consigo mesmo é o começo de um processo de autodestruição.

Ninguém se dá conta disso quando julga que a amiga que dança em cima de mesa em festa é louca. Ninguém pensa por esse lado quando diz que a vizinha que transa com todo mundo é fácil. Ponto de vista, opção sexual, noção de espaço e escolhas de vida todo mundo tem e devemos respeitar. Dispensar rótulos é a segunda coisa mais importante a fazer nessa história. A primeira, ainda, é se amar e se aceitar. E daí que você bebe demais sempre e dá vexame? Isso faz com que você se sinta mal? Sim? Mude. Não? Continue bebendo. E daí que você é tão animada que topa viajar pra Bahia e depois pro sul do nada? Isso faz com que você se sinta mal? Sim? Mude. Não? Continue viajando.

No final das contas é sempre você contra você mesmo, e a opinião alheia não passa de papel velho que cai no chão e você pisa em cima uma hora ou outra. Você não controla o que os outros vão pensar, mas controla como você pode se sentir. Aceite a si mesmo, mude o que achar que deve mudar, mas acima de tudo, não aceite rótulo.