Fiquei pensando durante muito tempo no que escrever sobre você em uma página em branco. Era seu aniversário, comemoração da suas primaveras. E algo precisava ser dito. Algo precisava ser pensado e sentido sobre você.

Mas só me restava a folha em branco. E meus olhos cansados sobre as linhas, sem nenhuma palavra. Folha em branco.

Começou daí meu raciocínio meio quebrado sobre quem você é, sobre quem você foi ou deseja ser. Mas percebi que nada disso importa, o que importa mesmo é quem você se mostra ser pra mim. Foi então que eu percebi. Você é uma página em branco. Uma nova folha, todo dia de manhã. Todo dia você parece se renovar e se mostrar de um jeito novo. Uma folha em branco ou um desenho que pode ser colorido de um modo diferente a cada dia, só depende do seu humor. Os desenhos são para os dias leves em que você solta risadas altas e o seu time ganha aquele campeonato regional, e a folha em branco é para os dias em que alguém insiste em te fazer refém das necessidades alheias ou dos sentimentos que não são os seus. Quando o trabalho aperta, quando o dia tem só vinte e quatro horas e você ainda tem que acordar cedo para malhar. E tem leões para matar ou domar. Nesses dias a folha em branco é necessário. Nos outros, você segue colorindo desenhos da forma que sabe fazer.

Você se renova todo dia de manhã, alternando desenho e folha branca. Essa poesia até parece uma forma pessoal de terapia, mas não é. Se você se dá conta disso, não parece se dar enquanto reclama do dia-a-dia. Você me desperta a firme de ter colado os pés no chão, sempre calculando todos os passos, avaliando as opções e os caminhos só para não acabar errando. Você sempre parece sempre ter um plano, mas às vezes entorna e volta atrás. E pensa, e repensa e julga e avalia. Você se cobra muito, espera muito e se impulsiona muito também. Ninguém consegue te fazer ir pra frente sem ser você mesmo, e isso é mágico. Quase afrodisíaco, eu diria, é tipo aquela coisa de autossuficiência - e com você isso é real. Não é conversa. Você sabe a sua força. Mas apesar disso tudo, apesar dessa fortaleza inalcançável que você mostra ser, eu sei que, no fundo no fundo, alguma mulher ou alguma coisa ainda te faz pedir arrego - até mesmo pra um gigante da sedução.

Você é bom com as palavras, na sinuca e em qualquer discussão, o que me leva a constatar outra coisa; eu não me imagino ganhando nenhuma dessas opções contigo. Aprendi que com você não adianta falar alto, tem que convencer. Tem que ser, de verdade, sem máscaras. Quem não é não tem chance, você corta a cabeça. Política, jogos, filmes pela metade, chuva, hambúrgueres e risadas durante uma palavra-cruzada sobre ex-namoradas. Você acertou todas, saiu ganhando, mas posso dizer que eu também.

Se me permite a licença poética, é quase uma incógnita; você, tudo isso que nos embala, e a vida. Mas fazer o quê? Pessoas como nós gostamos de coisas difíceis, sem respostas e estressantes. Meu estresse passa com café, e café me lembra você. Olha aí você de novo. Nem uma folha em branco seria suficiente. Quem sabe um desenho bem expressivo, ou os dois. Ou nenhum. Vai depender do seu humor.