Aposto que se você perguntar a ele qual o porre mais louco que ele já tomou, ele vai te contar que foi em uma segunda-feira, quando ele caiu da escada e eu morri de ri enquanto o ajudava a se levantar. Se você perguntar a melhor viagem, aposto que foi a que fomos para o Chile. Se ainda insistir em perguntar do que ele se lembra quando alguém grita pizza, sei que ele vai responder que lembra de mim. Não me entenda mal, não estou dizendo isso para te afrontar. Ele tem uma imensa coleção de memórias e muitas delas são comigo sim, mas não deixa que isso te limite. Não deixa que isso te faça repensar seu relacionamento com ele, ou até mesmo evitar deixar alguém com medo que as lembranças te assombrem pelo o resto da vida. Um dia, outras memórias vão tomar o lugar das antigas e você nem vai se dar conta.

Acredite em mim, vai ser mais fácil do que respirar.

Você que está sofrendo com aquele apego a uma relação que já está condenada, com medo de sofrer lembrando de tudo – uma vez que a pessoa esteve sempre lá, não se preocupe. Outras memórias vão surgir para ocupar o lugar dessas memórias que você tanto aprecia. Nossa coleção de memórias nunca estagna, muito pelo o contrário; ela está em constante expansão. Então, até pode ser que hoje ele ainda se lembre do porre da escada, mas vai chegar uma hora que ele se lembrará de outro. Aposto que um dia ele vai se lembrar de uma outra viagem e a julgará como a melhor. Ou então, esqueça da pizza e passe a se lembrar de você quando alguém disser pudim no meio de uma conversa. Isso não quer dizer que ele esqueceu nossas lembranças, só quer dizer que ele não está apegado nelas mais. Quer dizer que ele está vivendo e está feliz. E também não quer dizer que ele nunca mais vai pensar em mim quando alguém disser pizza. Memórias são memórias e estão sempre ali, elas só não vão determinar nada mais.

Não deixe que seu medo de tais memórias determine algo também.

Viva a viva, menina. Segue em frente. Aceite que as pessoas viveram histórias antes de você e vão viver depois de você. Assim como você vai viver outras histórias depois que esse amor acabar. Não deixa o medo das memórias te segurarem em um relacionamento abusivo. Eu sei que elas foram lindas e especiais, mas é só. Guarda na gaveta da lembrança, pede licença e segue em frente. Por si só já estará construindo outras lembranças, sem precisar de alguém. Da mesma forma, não deixe aquela sensação de que memórias são bases fortificadas e nos atormentarão pela vida. Memórias são apenas gatilhos para sentimentos e eles sim nos atormentam. Mas, sorte a nossa que sentimentos podem ser controlados, morrem, renascem e surgem do nada. Novas memórias trazem isso; construa as suas.