Se eu pudesse voltar no tempo e me encontrar com a minha versão mais nova na época antes de te conhecer, eu me diria boa sorte. Eu apenas me desejaria boa sorte, porque Deus, como eu iria precisar. Pensei nisso mil vezes. Pensei nas coisas que eu faria ou falaria para mim mesma só para evitar que nossos caminhos se cruzassem, mas acabei me dando conta de que eu se eu não tivesse passado por tudo aquilo com você, hoje eu não seria quem sou. Hoje, eu não estarei onde eu estou e provavelmente, nem estaria aqui escrevendo esse texto. Bom, não posso falar por você, mas eu não troco quem eu sou hoje por coisa alguma. Nem pela paz de não ter te conhecido.

Então, se eu pudesse me falar algo, seria mesmo boa sorte. Agora, se eu pudesse dizer algo para você, eu diria mais. Eu até te desejaria boa sorte e te confessaria que naquela época, nada me tirava a sensação frequente de que um cigarro me lembrava você. Não por conta do seu gosto lembrar cigarro ou seu cheiro, mas porque simplesmente, depois de tudo que passamos, você era praticamente como um cigarro; a bela embalagem chamativa, bem articulada, tentando me convencer que uma tragada apenas não faz mal. De que provar do teu encanto não seria ruim.

Eu poderia te contar sobre os alertas, que não partiam de anúncios ou propagandas, e sim de vozes e pessoas que te conheciam bem o suficiente para poder me alertar de cada efeito colateral que você pode causar. Será verdade que você fizesse tão mal assim? É, talvez você fizesse. Na época eu não imaginava. Na época, a incerteza até me excitava. A gente sempre conversava sobre a psicologia reversa que você usava – e que sempre funcionava. Você era, definitivamente, um cigarro. Irreverente, simples, avulso, enrolado em uma carcaça irresistível. Você queimava a garganta, às vezes relaxava, às vezes irritava. Sempre marcava. E como todo cigarro, você viciava. Fazia um mal danado. Você pode não dar câncer, mas matava. De raiva, de beijo, ou simplesmente de rir. Você matava de culpa. Você matava de ódio. Você era um pacote de cigarro perfeito, só não era tatuado na época, e agora é. E embora os alertas viessem de todas as partes, a ideia de fumar um cigarro nunca me foi tão tentadora. Logo eu, que nunca achei que cairia nessa cantada.

Mas é como dizem, cigarro vicia e o perigo e a incerteza também. Talvez, eu seja mesmo inconsequente, talvez o inconsequente seja você. Apesar de tudo, eu ainda não soube identificar quem foi pior, então não me restaria nada mais a te dizer a não ser boa sorte, querido. Boa sorte para nós.