Não sei dizer o que diabo foi que aconteceu entre os dois e também não posso dizer que sei com certeza o que não foi, mas o que ficou bem claro entre eles é que sempre foram discretos. Não havia trocas de olhares, não havia indiretas ou beijos roubados; era um amor de bastidores. Não foi amor à primeira vista, ele precisou insistir no olhar. Sorte que eu tenho pós em cinema contemporâneo e pude perceber os detalhes silenciosos.

O roteiro foi simples; amigos em comum, uma piada sem graça que deu abertura e uma saída em um dia de semana. Naquele dia eu fui uma espectadora, e vi nascer lentamente o melhor enredo de amor meia boca existente nessa última década. Eles se davam tão bem à ponto de conseguirem se dar sem nem se falarem. Sem nem se olharem. Trabalhavam juntos, riam juntos, ficavam juntos, mas separados. Nenhuma cena de amor foi gravada, nenhum beijo de cinema foi capturado. O amor era de bastidor e ninguém nem se quer desconfiava. Eram bons atores, mentiam bem. Aguentavam bem. Eu arriscaria dizer que mereciam o oscar pela cara de paisagem e reações premeditadas.

Apesar de poético, por um lado.. foi uma pena. Teria sido o roteiro vazio e sem emoção que os matou ou a necessidade de se esconder desesperadamente na coxia? Eles eram bons mesmo em estarem juntos no silêncio e no escuro, só não conseguiam dar as mãos; ela errava as falas e ele sempre se atrasava. Ou nunca aparecia. Fecharam as portas do teatro e deixaram a coxia vazia, sem lembranças ou retornos. No entanto, ela agora lembra das falas. E ele, resolveu enfim acertar a hora de chegar. Como eu disse; uma pena. A peça foi encerrada, e o amor se esgotou.