O bilhete é curto, amor. Não vou me demorar não.

Eu acho que estou cansada da sensação de sempre estar a um passo da partida. A um passo da perda, a um passo do que vai me destruir. Antigamente, com a pouca idade, era divertido seguir sentindo que o amanhã era uma incógnita e que eu poderia ou não estar com alguém, no entanto, nos últimos anos, eu comecei a querer me aquietar. A necessidade de me transformar em lar, e viver minha vida com amor e sossego passou a acalentar meu coração. Eu não quero mais estar a um passo da partida. Eu não quero ficar convivendo com a sensação de que o que vem pela frente vai me destruir.

Eu quero ficar, amor. Eu quero fazer morada, eu quero pintas paredes e decorar ambientes. Eu quero sentir que eu posso esquecer o lugar em que deixei os sapatos e as meias, porque não vou precisar juntar tudo e partir. E também quero a paz de saber que a porta vai bater de madrugada, e que tu chega depois do seu plantão. O tempo pode ter me deixado piegas, mas me deixou mais firme e decidida também. E eu decidi por um amor à dois. Sem partidas, ou destruição.