Semana passada eu voltei na faculdade para resolver algumas pendências e me deparei andando pelo o meu antigo bloco – precisava matar o tempo até a hora de me encontrar com meu antigo professor e ajudar em um trabalho. Rodei o primeiro andar, subindo para o segundo e parei em frente a minha antiga sala. Durante os quatros anos que estive ali eu estudei em várias salas, mas aquela era especial. Aquela tinha sido a minha sala no primeiro período. A sala que presenciou universitários agitados e confusos, que mal sabiam o que os aguardava. Aquela sala recebeu toda a minha euforia, a minha mágoa e o meu medo. Aquela sala presenciou eu conhecer e conquistar algumas amizades que seriam para sempre. Aquela sala era importante. Não resistindo a nostalgia, eu entrei.

É incrível nos depararmos com a certeza brusca de que certas coisas ficam iguais, afinal, a sala estava igual. A mesma quantidade de quarteiras enfileiradas perfeitamente, o quadro branco, o computador velho na lateral perto do canto. Pela janela, eu ainda podia ver a cantina e os outros blocos. Eu ainda me lembrava bem qual daquelas era a minha carteira. Então andei pela sala, o chão recém encerado, e me sentei. Respirar fundo naquele lugar novamente e encarar o silêncio da sala me fez refletir; Deus, como o tempo passa! Como a gente cresce, como a gente evolui e cria maturidade. Eu era tão menina quando entrei ali pela primeira vez, que mal conseguia explicar a minha surpresa ao perceber o quanto eu tinha mudado. Entrei na faculdade aos dezessete anos, tão esperançosa com as descobertas e com o meu futuro, que nem me dei conta ao longo do curso que várias outras questões apareceram e me fizeram refletir. A faculdade nunca se tratou somente de trilhar um caminho para uma profissão, era também uma plataforma de evolução para o autoconhecimento. E para a maturidade.

E bom, a maturidade dói. E custa caro, e é confusa, e muitas das vezes vem acompanhada de uma série de decisões que você toma sem se importar, e depois percebe o quanto está jogando fora evitando prestar atenção em si mesmo. Ninguém quer assumir que errou, que está errando ou que se continuar naquele caminho vai errar. Ninguém quer assumir que está amadurecendo, que para assumir isso é necessário assumir que você não é tão invencível assim. Que você não é a rainha da razão. E bom, a faculdade não pergunta se você quer ou não, se está preparada ou não. Ela te confronta, te joga no chão e se você não pensar rápido e agir, você acaba sendo esmagada e desiste. Já percebeu quantas pessoas desistem no meio do caminho?

Eu tive que me enfrentar várias vezes ao longo daqueles anos. Eu tive que confrontar tantas versões minhas que eu odiava, tantas situações que eu havia evitado, e assumir erros dolorosos que faziam de mim uma pessoa confusa, mas a cada passo, mais forte. O silêncio daquela sala, porém, me fez sentir uma vencedora. Alguém que tinha matado seus leões, domado seus demônios, e tinha saído daquela briga marcada, mas muito orgulhosa também. E feliz. Acima de tudo eu estava feliz. Talvez esse seja o significado de olhar para trás e ver que tudo valeu a pena. ver que mesmo se você não gostou do resultado final, as coisas valem a pena de uma forma ou de outra. Aquela sala vazia, do segundo andar, nunca foi mais do que isso para muitas pessoas, mas para mim, foi como uma ponto de largada. Eu não sabia no que estava me metendo quando entrei lá pela primeira vez, mas sabia definitivamente onde queria chegar quando deixei ela pela última vez.