Quando mais nova, eu nunca imaginei como seria quando mais velha. Nunca gastei meu tempo pensando na minha personalidade, em onde eu estaria e com quem. No entanto, hoje, pego-me curiosa sobre a menina que eu era. Ou, na mulher que já fui. Tudo sempre parecia tão simples quando eu era mais nova, que hoje me sinto mais uma menina do que a mulher, me divertindo e me preocupando nas decisões que tomo ou terei que tomar um dia. Aquela que precisa sempre se lembrar de onde colocou as pantufas e acertar a quantidade de açúcar certa na hora do café. A menina que tem que se lembrar das frases de auto ajuda que copiou da internet, e a mulher que dispensa o salto alto e prefere andar de tênis. E que fala alto quando é desrespeitada e não aceita desaforo.

Sinto-me muito mais mulher sendo a menina que sou. A mulher que já fui era preocupada com as pessoas a sua volta, com o que conseguiria fazer, com o que conseguiria conquistar e não queria perder tempo. A menina que me tornei agora, se apega a momentos, vive um dia de cada vez e parou de sofrer por antecipação. Assumiu que não sabe usar delineador, e aprendeu a pedir desculpas e dizer que não sabe. Demonstrar fraqueza era uma coisa terrível para a mulher do passado, mas a menina de agora aprendeu a pedir ajudar quando precisa. Em contrapartida, a menina que eu fui era tão tranquila e de guarda baixa, se aproximava de todo mundo na facilidade de um sorriso, e a mulher que me tornei aprendeu a filtrar as amizades e o que realmente importa. Às vezes, as pessoas andam juntas, às vezes, você as arrasta. A mulher que eu sou hoje aprendeu a não ser caminhão de lixo. Aprendi a medir a bebida, aprendi a controlar as vontade de comer cajuzinho.

Hoje, digo não quando quero dizer não, e aprendi a aceitar o não quando me dizem. Não posso mais entrar na cama elástica, mas continuo fazendo bolinhas de sabão e roubando balão de gás hélio das festas de aniversário. Não misturo vodka com cachaça, não bebo em qualquer lugar e não saio falando para qualquer um que em noites frias eu durmo com meia nos pés. Aprendi a dividir minha vida com quem merece, e que mesmo que não gostemos da verdade ela é necessária. Todo mundo merece uma segunda chance, ninguém tem culpa dos seus problemas e você deve sorrir para todo mundo, porque as pessoas passam por batalhas que você nem imagina. Talvez a criança de alguém tenha perdido seu brinquedo favorito, ou o adulto tenha se perdido em um caminho que ele queria muito desbravar. Aprendi a andar de mãos dadas com as duas partes de mim que formam quem eu sou. É complicado, é estressante e vira e mexe uma toma o lugar da outra. Você ainda vai me ver chorando assistindo a um filme e me afundando em uma bacia de cajuzinho, ou então, completamente diferente em um salto quinze gritando com alguém que não fez o trabalho deveria.

Depende do dia, e de como você vai me ver passar.