Dei a ela o nome de Dela. Foi mais fácil para mim persofinificar essa paralela de personalidade que às vezes me invade e me deixa agitada de mais para controlar minhas próprias emoções. Hoje, somos velhas conhecidas e aprendi a respeitá-la, mas não posso dizer que somos amigas. Dela me ensinou muitas coisas, dentre elas: atenção plena, necessidade de relaxar, o desapego pelo o controle, gosto por ioga e meditação e o rezo constante. Racionalizar também sempre ajuda, mas isso eu sempre fiz, ela só aperfeiçoou a forma como penso agora.

A ansiedade inrrompeu na minha vida em um momento inoportuno, em que eu mais precisava de equilíbrio e paz. Ela desequilibrou a balança e dominou minhas emoções de forma que não me restou alternativa a não ser me render. Eu estava doente naquele momento. Precisava de ajuda. Precisava mudar. Não uma mudança rápida e superficial, e sim uma mudança profunda e sistêmica. Até mesmo a contragosto, eu precisaria reagir e sair da inércia e inrromper contra a minha nova hóspede indesejada.

Achei que seria fácil aguentá-la por algum tempo, e depois mandá-la embora, mas ela viera com a intenção de ficar por um tempo e me ensinar coisas que a vida já tinha tentado por si só, mas eu não dera ouvidos. A Dela me forçou a olhar para minhas sombras e meus demônios, e assumir a responsabilidade completa pela desordem que ela iluminou ao me oferecer crises de pânico e falta de ar. Houveram dias em que pensei que não aguentaria, e estava fadada ao fracasso com ela andando pela casa. Mas até no caos, ela me ajudou. Porque toda vez em que eu pensava em desistir, o medo de estagnar e nunca viver o que eu havia desejado e sonhado tanto, me forçava a reagir e sair do lugar. A Dela me assustou mais do que consigo me lembrar de ter me assustado em vida, mas me encheu de esperança ao me recordar que ela era só uma hóspede, e não a dona da casa. A dona da casa era eu, e cabia a mim ditar as regras e resolver as pendências.

Comecei daí a perceber que eu precisava mesmo mudar e mudar de verdade. Mudar de dentro para fora. Percebi que precisava me desapegar de tudo aquilo que eu achava que sabia sobre mim e aceitar as mudanças que estavam vindo em ondas para minha vida, mesmo que eu não tivesse pedido por elas e nem que eu gostasse dela. Foi uma bagunça, devo admitir. Foi uma confusão sem tamanho, mas era minha confusão. Cabia a mim resolver, e tinha a minha cara. Ao longo da caminhada eu pude perceber que eu tinha mais força do que sabia ou me lembrava, e que dentre meus inúmeros defeitos que aprendi a respeitar, desistir nunca foi um deles. Nem mesmo a covardia ou o medo. Eu sempre encarei. Eu sempre insisti. Eu nunca parei. Acho que foi por isso que Dela escolheu minha casa, dentre de tantas. Acho que foi por isso que ela apareceu para me mostrar minhas mazelas e me pedir para acalmar e escutá-la, porque ela sabia que eu aguentaria a verdade. Dela sabia que mesmo na dor, eu poderia aprender e suportaria seguir em frente. Agradeço ela por isso, e mais ainda a mim mesma, por mesmo aos cacos, seguir em frente e se reconstruir, sempre tentando ficar bem.

A ansiedade é um monstro para muitas pessoas, e não posso dizer que também não fora o meu. Mas monstros não existem, apenas demônios ou fantasmas que não podem nos fazer mal sem nossa permissão. Enxergar a minha ansiedade com uma possibilidade de me conhecer e aperfeiçoar ainda mais, fez de mim uma pessoa melhor e que conseguiu superar o desespero de ser refém de si mesma e do descontrole. Hoje, Dela ainda aparece de vez em quando, manda um postal durante ou ano, e insiste em dizer que mesmo que não more mais comigo, ela ainda pode aparecer. E eu respeito isso. Assim como respeito a mim mesma, e a minha força em saber que se um dia ela resolver voltar, eu a recebo de braços abertos, mas com regras sólidas e firme. Quem manda na minha casa sou eu, a Dela, é apenas uma hóspede.