Foi meio engraçado – para dizer o mínimo – o segundo em que eu me bati com você e a sua namorada modelo naquela feira cultural da nossa cidade. Isso teria sido um detalhe simples da noite, exceto pelo o susto que você levou e a maneira como você me fez rir levemente. Foi realmente engraçado ver seu choque, e mais ainda, ver que eu não me importava: nem com os comentário dos nossos amigos, nem com seu relacionamento ou com sua reação de quem não sabia se ficava sem graça por mim ou preocupado por ela. Eu não te cumprimentaria, isso era fato. Mas você não deixaria de me olhar, o que também era fato.
Você ficou de um lado, largado em uma mesa repleta de pessoas silenciosas, enquanto eu conversava animada com outros amigos e minha cerveja. A cena lembrava as inúmeras vezes que a gente saiu para beber, para se conhecer e para conversar sobre a vida e nossos medos. Sobre como dividimos momentos e músicas dentro de um carro apertado e de um frio maçante por madrugadas a fio. Enquanto eu conversava com meus amigos, eu repassava nossas conversas batidas, assim como sei que você refletiu sobre nossos detalhes enquanto seus olhos analisavam cada parte minha enquanto eu cruzava pelo o espaço. Teríamos nos tocado se pudéssemos, ficaríamos juntos se tivéssemos a chance. Notar nós dois, silenciosos e apreensivos, me fez entender que ainda sentíamos falta um do outro – só não voltaríamos. E nem podíamos. Você mentiu até quando não pôde, já eu, aguentei até onde eu consegui. Teria sido incrível para o resto dos dias, só não pôde ser.
Saí da feira com a certeza de que a escolha correta foi feita, embora não tenha sido nem de longe a mais tranquila ou prazerosa. Ainda mexíamos um com o outro de maneiras que eu não consigo explicar e de formas que eu preferiria nem lembrar que existem. Seu relacionamento segue inabalável e imaculado, eu, sigo em paz e sozinha. Não sabíamos onde terminaria nossa história no segundo em que nos conhecemos naquela maldita praça. Poderíamos ter dominado o mundo e vivido a vida de uma maneira muito nossa, mas nossa história estava condenada até antes de nos darmos conta disso. Você, escolheu outro caminho. Eu, escolhi esquecer você. Para o bem do nossa sanidade e dos nossos amigos, a gente finge que não se viu naquela feira e que foi só efeito da bebida. O que restar para ser explicado, vira segredo nosso. Sempre deixei claro que não ousaria profanar teus dias com ela e só te peço que não ouse profanar meu corpo com teus olhares saudosos. Infelizmente, você não é mais meu querido(o que no fundo, você nunca foi), e eu nunca fui tua.