Acabou naquele dia. Caí da escada, enquanto deixava sua casa e largava sem volta às nossas lembranças. Você bem que tentou me convencer a ficar, justificou, explicou, esmiuçou cada detalhe de nós dois. Mas não deu. Não deu mesmo. Cair da escada no final foi só mais um detalhe desastroso do que vivemos.
Deixei para trás nossas histórias, algumas roupas e o meu modelador de cachos. Corri, manca, porta afora para ter certeza de que não olharia para trás. Se olhasse, talvez seus olhos castanhos me convencessem a ficar, e eu não podia me dar o luxo de acreditar neles outra vez. Você nunca me bateu, mas nosso relacionamento era o mais abusivo existente, e eu demorei a me dar conta disso. Ninguém te conta que quando apaixonada você pode se sujeitar a aceitar coisas impossíveis, mas esta é a mais pura verdade. E a verdade dói. Até mais do que o meu tornozelo.
E olha que meu tornozelo tá doendo, assim como meu coração e o meu orgulho. Nunca pensei que eu cairia no conto do vigário, e me meteria nessa confusão toda. Mas a gente nunca espera, a gente nem imagina. O mal não tem cara de mal, e quase sempre vem embalado em uma carcaça linda, com um sorriso fatal. Você foi uma coisa incrível por muito tempo, mas parecia brilhar ás custas da minha paz e beleza. A cada passo que eu definhava e ressacava, você insistia em dizer que me isolava por puro amor. Seria mesmo amor... ou seria apenas dor? Você e toda aquela necessidade de se auto-afirmar?
O tornozelo ainda dói, eu manco levemente na perna esquerda e ainda sinto medo de dormir sozinha, mas tô em paz amor. Longe de você, livre para respirar e apenas ser... eu.