Ultimamente eu ando sem saco. Sem saco para lidar com a cobrança alheia, sem saco para lidar com insegurança de macho que insiste em diminuir mulher para se sentir mais seguro em relação a sua masculinidade e sem saco para os hipócritas que só aparecem quando você está por cima e te chamam de amigo ou família. Sinceramente, os anos e os danos me fizeram mais chata, mas mais exigente também. E sem paciência. Minha rotina anda tão corrida que eu não tenho tido tempo de me preocupar muito com semana que vem, mas essas pequenas situações me tiram do sério. Eu fico fora do eixo. Quer me por irritada? É só tentar comprar farinha comigo, dando pitaco onde ninguém pediu tua opinião e achando que só porque sabe meu nome me conhece.
Com licença, fofo, volte para o seu lugar. O lugar fora da minha vida e longe de tudo que você pensa que pode opinar ou falar. Vai arrumar louça pra lavar, ou comprar um gato para se ocupar de cuidar das sete vidas dele e esquecer a minha. Por aqui, te asseguro que as contas estão em dia, minha saúde anda cem por cento e todos os projetos seguem no ritmo que tem que ser. Não insiste em fingir que somos amigos ou quiçá conhecidos, e que você quer o meu bem. Essa história de posar de bom coração e gente fina para mim não cola. Pega suas boas intenções e vá fazer caridade. Vá ajudar crianças na África, correr em maratonas com paraolímpicos ou então vá protestar com o GreenPeace. O que você vai fazer não me importa, contanto que não me conte.
E não me tome por grossa ou insensível, você é que realmente não se manca. O fato de sermos do mesmo signo, termos frequentado a mesma turma de pós-graduação ou outra trivialidade qualquer não nós faz amigos. Aceite a consideração, concorde com os fatos e siga em frente. Eu estou sem saco, com péssimo humor e cansada. Pelo amor de Deus, eu estou cansada. E quando eu fico cansada... bom, você não sabe. Se fôssemos amigos, saberia.