Numa noite de lua ausente, pessoas cada vez mais distantes e solitárias divertiam-se, mas, divertiam-se longe da humanidade, a electricidade dona das suas regalias ausentou-se e o caos espalhou-se, ninguém gritou ou chorou ao menos, não havia necessidade. Tentavam olhar umas para as outras, mas não era possível, o pavor reinava, o medo não era dos males que a escuridão pudesse guardar, nunca é... o medo é sempre da podridão que representamos para nós mesmos, sobre o que vem à tona, sobre sermos apenas humanos mesquinhos nem mais altos que as nossas próprias sombras, é sempre sobre o pouco que somos, precisamos de luz para projectarmos a nossa pequenez, e a escuridão (diferente das trevas) só nos faz refletir.
Saíram todas de dentro de casa da forma mais silenciosa possível, estavam no quintal e cada um procurou acomodar-se da melhor maneira... E em poucos minutos uma chama fez-se presente, o candeeiro foi aceso e centralizado na mesa do quintal de uma casa onde já fazia um tempo desde que as pessoas reuniam-se para conversar como humanos que costumavam ser até então, havia luz, mas o relento ameaçava a durabilidade dessa possibilidade, e por fim todos aqueles humanos reunidos numa mesa rectangular, representando as suas imperfeições e as desigualdades existentes e visíveis.
Estavam todos entretidos, trocaram impressões, recordavam os momentos, os olhos brilhavam,... Estavam! Duas horas depois, a electricidade voltou e todos correram mais uma vez rumo à felicidade, voltaram a estar entretidos à distância, eles eram apenas humanos, mas em algum momento conseguiram estar em humanidade...
IN «Humano respirando Humanidade»