Para começo de conversa, eu sempre as odiei. Quando mais nova eu nunca entendia a necessidade de colocar reticências, e mais velha, eu percebi que elas eram necessárias sim em alguns casos. Uma péssima ideia, na verdade, mas necessárias. Não que elas sejam necessárias para prolongar as coisas, mas às vezes quando não se tem resposta, elas aparecerem. Uma hora ou outra elas sempre aparecem.
Quando observo o panorama geral da nossa história, começo a entender porque as reticências foram necessárias, mas odiáveis. Tudo havia acabado há muito tempo – nós que demoramos a perceber – e consequentemente tudo mudou; desde o nosso ritmo amoroso das brigas até a construção diária do relacionamento. Nós dois ficamos incompletos, nosso romance foi esquecido nos braços de outros amores e escolhas erradas. Nós nos desviamos do caminho que imaginamos para nós dois, e então, elas apareceram – as reticências. Várias delas, várias vezes, depois de vários erros.
Você colocou três pontinhos antes do nosso final – que já era final antes mesmo que a gente pudesse perceber ou entender. Durante muito tempo eu achei que sua decisão existiu para evitar um confronto, mas sua ideia era voltar quando bem quisesse e encontrar tudo do jeito que deixou. Achou que as reticências te dariam um tempo para lidar com a bagunça depois, e assim prolongar a história, para depois colocar mais reticências. Eu odiei as reticências mais ainda. Foi um grande engano seu acreditar que você teria tempo e oportunidade de retornar. Nossa história havia mesmo acabado, tudo mudou no final da história quando, enfim, reticências foram retiradas e o ponto final assumiu seu lugar. Fim.