Rafael apareceu de surpresa em um sábado à noite depois de uma festa bem caidinha que não deu em nada. Superando tudo que eu esperava para o final de semana, a conversa que rolou na mesa do bar foi interessante o suficiente para me deixar curiosa pelo o cara que prestava atenção até na entonação que eu usava. Não vou dizer que foi diferente de primeira, mas foi incomum. Para alguém que sempre falava demais, quando alguém para só para te ouvir, isso chama atenção.
A sintonia apareceu depois de alguns encontros regados à vodka e a hambúrgueres, e eu me peguei interessada em saber porquê um cara que tinha tudo para dar conta de tudo não conseguia enxergar toda a força que tinha. Ou o talento e a determinação. Rafael era como um barco grande e com velas lindas, que estava a deriva em um mar de oportunidades, e com o ajuste de velas certo, ele começaria a navegar. Ele me inspirava, mesmo sem saber. Tinha personalidade, exalava uma tranquilidade natural e me fazia questionar se aquela calma aparente era quem ele era, ou só uma fina película que encobria todas as mil dúvidas que poderiam existir naquela cabeça. As dúvidas nunca vieram, as surpresas sim… e com elas, uma mistura completa de novidade e excitação que me trazia sentimentos antes não conhecidos.
Rafael era um menino completamente diferente do que eu estava acostumada, mas cometia os mesmos erros comuns que me tiravam do sério. Não vou negar que senti vontade de matá-lo diversas vezes. Não vou negar que provavelmente errei em várias palavras. O silêncio dele era encantador e perturbador ao mesmo tempo, e tivemos que aprender a lidar com isso. Ou melhor, eu tive. Ele ainda prefere o silêncio.
Rafael tinha uma alma grande, com um coração maior ainda e uma paciência genuína que me arrancava sorriso na leveza de um segundo ou dois. Nada do que vivemos era o que poderia se chamar de comum: não havia segurar de mãos, minha cabeça deitada no ombro dele ou ligações apaixonadas durante a madrugada. O que cultivamos parecia mais real do que o charme existente nas relações. Madrugadas jogadas nos braços um do outro, conversas intermináveis, ele rindo da minha mania por feito um passarinho e eu fazendo piada sobre a vida secreta que ele levava. Nunca houve promessas. Nunca as palavras amor ou paixão foram usadas. Não precisou. Sempre estivemos ali. Não faltou nada.