Me bati com ela de uma maneira muito tranquila. Não sou de ficar reparando em cor de cabelo e cor de olho, mas ela era loira de olho claro e ficava sorrindo para todo mundo da sala do curso que nós fazíamos. Aparentemente ela tinha tudo para ser tão-insuportável-e-convencida, mas quem diria que ela seria o oposto disso. E seria tímida, meio insegura e em busca de liberdade e de traçar seu caminho sozinha. Não foi fácil passar por cima da primeira impressão silenciosa, mas conseguimos. Ela provavelmente deve ter me achado uma chata e convencida também.
E quando eu menos esperei, nós viramos amigas. Ela dividindo as coisas que gostava de fazer, e eu contando dos casos loucos e tórridos que eu tinha. As duas com medo das novidades que o futuro prometia trazer, mas ainda assim querendo traçar o próprio caminho. Ela, com as biológicas e eu com as humanas. Ela, não conseguindo se concentrar para ler muita coisa. Já eu, lendo dois livros enormes por final de semana. A gente era muito diferente sob a fina película das diferenças físicas e gostos musicais, mas éramos muito parecida na profundidade da alma e das vontades. Foi por conta de toda verdade que viramos amigas, e a cada passo no dia a dia a gente ia aceitando as diferenças e ressaltando os pontos de igualdade, mesmo que eu achasse que os desencontros das nossas personalidades fosse o que dava liga a nossa amizade.
Assim como o tempo, os garotos de quem tanto falávamos e as estações, ela também passou. Passou e foi embora atrás do sonho dela, atrás do próprio caminho e de fazer as próprias escolhas sem ter que se explicar. A gente ainda se fala sempre que pode; ela pedindo conselhos, e eu desabafando sobre as coisas. Seguimos parecidas, meio perdidas e ansiosas com as mudanças que o destino sempre promete, mas sempre com um sorriso no rosto e a eminência de um abraço apertado sempre que nos encontramos. Ela, estudando o que gosta, e eu estudando para ir em busca do que eu amo também.