Faz tanto tempo que nosso romance acabou que eu fico me perguntando, às vezes, porque ainda gastamos tanto tempo um com o outro e porque fazemos tantos planos. Não sei dizer, mas eu gosto. Gosto porque cumprimos o que planejamos. Gosto porque tomamos café na padaria às quartas, participamos de aniversários em família, ajudamos um ao outro em trabalhos da faculdade, e na sua formatura, eu li a homenagem principal. No meu aniversário, você cantou uma música. Cantou mal, como sempre, mas o que valeu foi a intenção.
Seguimos saindo para beber aos finais de semana, cometemos loucuras impensáveis e marcamos viagens e momentos que são cumpridos. Eu escuto sobre os teus problemas, dou conselhos amorosos, ajudo a dividir o boleto do cartão e socorro você quando está bêbado demais para dirigir de volta pra casa. Você me consola quando alguma coisa ruim acontece, segura minha mão com força quando preciso de ajuda, me assiste ler livros em silêncio e traz pizza para casa sem que eu peça. Você nem se importa se é segunda-feira e eu quero encher a cara. Eu também não ligo se você prefere escutar funk enquanto estuda.
Tiramos fotos vergonhosas. Eu te ajudo a escolher as mulheres e te apresento minhas amigas. Dançamos juntos nas festas, nos apresentamos para os garçons e funcionários de boates como um casal. Mentimos sobre nosso tempo de relacionamento. Falamos sobre apartamentos que não existem, cachorros que nunca foram comprados e sobre decorações retrô que nos roubaram tanto tempo de organização, mas que graças a Deus que combinam com aquele quadro horroroso que você tem no seu quarto e não quer se desfazer. Você inda me leva para ver filme no cinema aos domingos, e eu deixo uma estrelinha e uma cerveja gelada na geladeira toda vez que você tem uma prova.
Dividimos a conta, a saudade e a vida. Cada um em seu lugar e à sua maneira. Cada um do seu jeito. Nós ainda rimos das nossas coisas, nos abraçamos e ficamos em silêncio por horas à fio. Nos beijamos quando queremos e ficamos juntos durante as madrugadas frias. As pessoas que não nos conhecem ainda nos encaram como se estivéssemos juntos. Nossos amigos e familiares dizem que não deveríamos ter deixado o que tínhamos acabar. Mas cá entre nós, quem disse que nos deixamos?