Era uma tarde de domingo.

Chovia do lado de fora e eu não sentia sequer a menor vontade de sair de casa. Afinal, quem é que trabalha em um domingo de chuva?

Infelizmente, para mim, eu deveria trabalhar.

Dirigi-me ao banheiro, lavei meu rosto, olhei-me no espelho e vi aquele rosto solitário de sempre.

Fui até a garagem, arranquei o meu carro e segui até a empresa.

Minha secretária bate à porta:

-Entre, por favor.

-Senhor, desculpe tê-lo feito vir até aqui em um domingo, é que, como o Senhor já sabe, estamos com um problema grave de segurança.

-Eu entendo Anne, não há problema algum em ter me chamado, apenas espero que isso se resolva logo. O Vladimir já está trabalhando nisso?

-Está sim, Senhor.

-Ótimo.

Cinco horas depois e estava voltando para casa. A chuva continuava caindo lá fora.

Depois de um dia desses a única coisa que eu queria era tomar um bom banho e dormir.

Foi então que vi aquela moça no ponto de ônibus completamente ensopada.

Normalmente eu não daria carona à uma pessoa tão molhada, não iria estragar o estofado do meu BMW dessa forma, mas como o dia já não estava bom e ela morava na casa ao lado, resolvi oferecer-lhe condução.

Durante os primeiros sete minutos fiquei pensando em quão louco eu estava. Afinal, já havia perdido milhares na empresa naquela dia e agora estava perdendo mais alguns milhares com aquele estofado.

Foi então que resolvi prestar atenção no rosto daquela moça. Apesar de vê-la praticamente todos os dias, nunca havia percebido o quanto seu sorriso era encantador, o quanto seus olhos brilhavam.

Perdido nesse devaneio prossegui meu rumo até minha casa.

Descemos do carro, ela me agradeceu com um leve abraço.

Eu devia estar meio louco, pois instintivamente a beijei.

Horas mais tarde e estou em meu quarto sozinho novamente. Ela havia ido embora de madrugada e nem sequer se despedira.

Resolvi que a procuraria no dia seguinte para falar do que aconteceu, dizer o que estava sentindo, pois nunca a havia olhado daquela forma, e agora, ela não saía dos meus pensamentos.

Quando finalmente fui atendido por aquela senhora, fiquei um pouco decepcionado, pois esperava ser atendido por outra pessoa.

De qualquer forma perguntei por ela, e foi quando ouvi essas palavras:

-Ela pegou um voo de madrugada. Está indo para Chicago onde se casará no fim de semana.

Não sei dizer se fui um tolo em me apaixonar por aquela mulher, nem o por que de ter me deixado levar por aquele sentimento.

A única coisa que sei é que nunca vou esquecer aqueles olhos, aquele sorriso, aquele rosto. Pois naquela noite me senti vivo novamente.

Por isso sempre me lembrarei de você, moça da chuva. Quem sabe um dia, nessas voltas que o mundo dá, eu a encontre novamente e possa pelo menos perguntar seu nome.