Já é tarde para tocarmos nesse assunto. Somos novas pessoas agora. Eu sou. Sei que você também é. Sei que ainda temos nossos medos e até de que volte a ser tudo como antes.

Mas não vai acontecer. Porque o que foi não nos é mais agora. Não temos o mesmo coração, nem a mesma mente. É a gente ainda, mas agindo, pensando e sentindo diferente.

Eu acabei lembrando de algumas vezes que fui dura com você. Me prometi que não ia mais lembrar, que tinha enterrado essa pessoa que fui, mas às vezes é bom recordar o que a gente já foi capaz de passar.

Você sempre reclamou da minha frieza, da minha estranheza e com certeza de que veria isso até os últimos dias das nossas vidas. Quase concordei, até nós dois virarmos essa mesa.

Nunca concordei em dar o primeiro passo, mas só que acordei para o quanto de amor precisava transbordar. Entendi que já tinha sido o tempo de bater na sua parede. Uma vez eu falei que ia esperar derreter o gelo que você se meteu, mas antes disso eu tive que bater com uma marreta.

Não tinha jeito, querido. Para entrar o pouco que fosse não tinha maçaneta. Não vou falar que não machucou um pouco. Também ativei as minhas defesas, mas cheguei em um lugar que eu sabia que dali eu teria que esperar até você descongelar.

Não reclamo nem um pouco. A natureza é perfeita.

Não sei se fui a última a chegar ali e sequer se fui a primeira, mas talvez eu espero que um dia você entenda. Aos poucos eu também abri portas dentro de mim, desconstruindo muros e incertezas.

Quando isso tudo terminar, não importa quando seja, eu estarei do lado de fora esperando essa deixa. Pode ser que eu tenha levantado para olhar um pouco em volta, mas se eu demorar... Me espera nas redondezas?

Me encontre aqui fora quando apenas o amor for a sua fortaleza. Quando dissolver toda a sua dor, trauma, ego e tristeza em bondade, compaixão, respeito e gentileza.

Você está livre agora para viver o amor que guardou no freezer por uma vida inteira. Será o seu maior tesouro e a sua maior beleza.

Essa é a pureza...

Da nossa consciência.