Você se apaixonou de novo, como se prometeu que não ia acontecer. Pior, você se entregou de novo, se abriu, acreditou. Não foi? É, eu sei. Como, de novo, pudemos ser assim tão fracos?

A gente sempre acaba acreditando de novo, o que por um lado é bom, a gente precisa de fé pra viver. Mas aquelas borboletas no estômago sempre nos traem, porque nos fazem esquecer o quanto esse conto de fadas que envolve os relacionamentos não é real, e vai ruir a qualquer momento.

Você busca uma confiança total, ele também. Ela chega a ser rude de tão "transparente", você adorou isso, é bem a sua cara.

Mas você mentiu que usa tinta pra esconder os cabelos brancos, ela mentiu o número do sapato pra não parecer despropocrional um pé 38 em seus pouco mais de 1,50.

Ele mentiu o horário da aula porque sabia que você ia ficar chateada e preocupada se soubesse que ele precisa fumar quinze minutos antes. Você mentiu que começou a dieta e acabou comendo uma caixa de Bis escondido. Talvez aquela que comprou pra presentear alguém.

Não tinha nada demais, e por isso você mentiu que frequentou aquele bar, ela mentiu a habilitação do curso que faz. Ele mentiu o nome da última ex, você mentiu o significado da sua tatuagem.

Você já mentiu até que amava ele. Seja porque quis agradar, ficou sem jeito de responder de forma diferente ou simplesmente tratava isso como se fosse banal. Justificativas nós sempre temos, sempre com as melhores das intenções, e, no entanto, continuamos mentindo.

Nós mentimos o tempo todos. Nós mentimos tanto que às vezes até nosso silêncio no fundo é isso: mentira rasgando a garganta. Achamos besteira, achamos que são mentiras "sociais", achamos que omissões e meias verdades são necessárias.

Mal percebemos que ainda são mentiras, que ainda são pequenas ranhuras na confiança, que isoladas podem nem sequer ser vistas, mas juntas ainda vão derrubar essa represa.

Quantas vezes não derrubamos e fizemos derrubar tantas represas por causa do simples acúmulo de mentiras? E quantas represas ainda vamos continuar derrubando? Algumas se derramam no nada, algumas até fazem florescer o que antes era seca. Mas algumas destroem cidades inteiras.

E quando essa cidade for você?