Se eu te contar você não acredita. Foi burburinho na faculdade toda, pessoal do diretório acadêmico não acreditou quando viu, e eu acredito que ele tenha ficado tão chocado quanto uma criança ao descobrir que bob esponja é uma esponja que caiu no mar. Ele deve ter imaginado que tinha acabado comigo.
E acredite, durante a primeira semana, eu achei mesmo que ele tinha acabado comigo. Com quem eu era. Nas coisas que eu acreditava.
Eu imagino os comentários: “Ela apareceu depois daquele escândalo das fotos íntimas vazadas”. O tempo havia passado. Eu tinha os cabelos mais curtos e o batom vermelho enfeitando minha boca como uma promessa comigo mesma. A partir de hoje, – eu decretei- não vou me abalar por coisas externas. A partir de hoje, serei eu comigo mesma. A partir de hoje, sei que a única pessoa que pode me definir sou eu.
Não vou me culpar pela covardia dos outros. Não vou me culpar pela pequenice de homens que se acham grandes quando expõem uma mulher de uma forma tão baixa e brutal. No final das contas, resolvi que não ia chorar sobre o leite derramado. Foi difícil, foi doloroso. Quase uma tortura, se não física, mental. Tive que repetir inúmeras vezes que nada está sob controle. Tive que aceitar que não controlo o que as pessoas pensam e fazem. Tive que entender que não adiantava sair por aí gritando que a culpa foi do babaca que me enganou e me expôs, e eu, assim como muitas outras, acabamos caindo na pior conversa que existe. Ou então, que não caímos em conversa nenhuma. Fomos só enganadas. Dá pior forma.
Decidi que não ia me importar com os cochichos. Com os risos fora de hora e com os gestos obscenos que eu saberia que iria receber. No final das contas, tive que aceitar tantas coisas, que a única coisa que eu queria fazer era respirar fundo e sentir o ar entrando pelos os meus pulmões. Queria ler um livro interessante, conhecer alguém bacana, ou assistir um filme no cinema. Quando entendi que não poderia controlar nada, tudo ficou mais leve. Tudo ficou mais vermelho, mas um vermelho mais bonito agora.
A lembrança do ocorrido ainda me aparecia todo dia. Cortava-me o estômago como se fosse uma lâmina afiada, e eu tive que aprender a lidar com a dor. Com a insegurança, com o deboche e o julgamento. Julgamento esse que veio das pessoas mais próximas, entretanto, decidi que eu não devia justificativas à ninguém, se não a mim. E ao invés de me culpar ou me puni, decide me pegar no colo e me embalar com canções baixinhas e que eu amava, para que tudo ficasse melhor. Como uma yoga sabe? Uma yoga emocional.
Depois do caos que minha vida se tornou quando fui exposta – literalmente – eu aprendi a me amar mais. A me aceitar e cuidar de mim mesma. Meu batom vermelho é a minha promessa com a vida e com meu íntimo, de ser sempre mais eu. Sem cobranças ou julgamentos. Agindo, e não reagindo.