É muito fácil ofender alguém que tanto nos machucou e que traiu nossa confiança. Confesso que fiquei tentada a repetir para ele o mesmo discurso de pessoa ressentida e enganada e, acreditem, eu estaria no meu direito. No entanto, preferi olhar para os céus e perguntar para Deus: “Por que diabos ele está fazendo aquilo comigo, de novo? Por que fazê-lo voltar se sabíamos que ele iria embora, de novo?” E voltaria. E iria embora. E voltaria. E partiria. Como um ciclo inacabável e ridículo, essa era a minha história com ele.
Foi então que algo me ocorreu: o que eu estaria deixando passar?
Todas as mil qualidades que ele tinha, eu sabia. Os defeitos, descobri todos. Nossa história parecia mais um roteiro velho e bem decorado, nada parecia fora do lugar. Eu já havia rompido com nossas lembranças há muito tempo, mas ele insistia sempre em reaparecer, fazendo-se de convincente e arrependido. Todo mundo já passou por isso pelo menos uma vez na vida. Sempre vai haver alguém que acha que pode voltar para sua vida quando bem entender, e que vai encontrar o lugar dele quentinho, como se ele nunca tivesse saído. É comum ver casais voltando a ficar juntos depois de meses e quem sabe, até anos separados. Mas aqui não. Aqui eu não queria mais isso. Apesar de eu desejar acusá-lo de mau caráter e cara de pau, eu estava inclinada e entender o porquê daquilo tudo. Tinha que haver algo mais.
Vê-lo voltar para a minha vida me deu um sensação de impotência que eu jamais havia sentido. Tentei de todas as formas impedir que ele se aproximasse, e até consegui, mas ele sempre estava ali. Era a notificação perdida. A ligação em uma hora de apuros, ou simplesmente, a mensagem de boa noite que inundava o barulho do meu quarto com o som de aviso. Foi então que eu parei de resistir. Deixei que ele entrasse na casa, escolhesse o lugar onde quisesse sentar e aguardei. A resposta veio mais rápido do que eu poderia imaginar. Não era sobre amor. Não era sobre começo. Diferente de Emily Thorne, essa era uma história sobre perdão. Sobre deixar ir. Sobre entender. Passei anos dizendo a mim mesma que tinha deixado para trás as coisas ruins, mas provei do meu próprio veneno ao ver que não. Eu precisava, realmente, aceitar o perdão. Aceitar que ele errou. Que eu fui enganada, mesmo me achando tão esperta. Aceitar que as coisas são como são.
Ele voltou para me fazer entender e deixá-lo partir.
Talvez essa tenha sido a coisa mais difícil que eu tive que fazer durante nossa história; assumir que estava errada. Concordar com ele, perdoá-lo e deixá-lo ir. Na manhã que sucedeu todos aqueles pensamentos conturbados a respeito da nossa história e de como eu me sentia, não houve tempestade. Não brilhou o sol, não foi como se o mundo tivesse descoberto que eu rompi com algo que me magoava a muito tempo. Foi normal. Nunca mais o vi da mesma forma, nossa história nunca mais me machucou. A resiliência chegou, e ela se sentou no lugar que ele costumava se sentar. Ele, foi embora.