É necessário abraçar o cinza. Percebi essa semana que minha casa virou monocromática. Tudo cinza. Cinza ou branco. Nada além disso, nada com muita expressão. Não entendi de primeira, mas depois percebi que essa é a forma que encontrei para viver meu luto.
Te deixar ir das minhas lembranças talvez tenha sido a coisa mais difícil que fiz, e mal sei explicar como diabo consegui fazer isso. Talvez eu tenha ganhado sua lembrança no cansaço, tenha esmiuçado seus erros e doído todas as dores que doem e chorado todos os choros que latem. Não sei o que fiz, mas funcionou. Você partiu, o cinza ficou e assim você me deixou. Ou eu te deixei, não sei.
Há quem diga que a ausência do amor e da saudade deixa a vida depressiva, e embora o cinza pareça um tanto monótono, a mim me diz muita coisa. Meu cinza tem cara de liberdade e profundidade. Meu cinza é sinal que a cor virá, e não que ela partiu de vez. Sei que ela não virá agora ou na semana que vem, mas virá. Talvez vermelho como a dor, ou dourado feito a luz do sol. Independente de tudo isso, hoje é necessário abraçar o cinza. Hoje é necessário entender que o luto vem, mas não é pra sempre. Luto é como decoração, e pode ser mudada depois que perde o sentido e ensina tudo o que pode. Eu gostei do cinza, não tenho como negar. Gostei de deixar você. E sobre tudo me encontrar no meio do caos e da calma.