Você sempre esteve aqui, não é? Vagando pelas festas da faculdade, bebendo pelo os cantos e sentando-se à mesa sempre que eu pedia pizza de marguerita. Você sempre esteve aqui; cuidando das confusões em que eu insistia em me meter, assessorando minhas crises e auxiliando em momentos de dor. Você sempre me ofereceu colo, suporte e abrigo. Você foi meu melhor amigo, meu confidente. Foi como um irmão por inúmeras vezes. Foi aquele amigo chato que chama atenção da gente quando bebemos demais. E você foi meu amor. Sempre com paciência e carinho. Sempre com planos incríveis. E em todas essas faces que você teve durante os inúmeros momentos que tivemos, você me surpreendeu; exceto naquele dia, em que você me tomou o ar. Você apareceu do nada durante uma semana corrida, em plena quinta à noite e eu não soube o que pensar - me chamou atenção para o fato de que não poderíamos seguir como estávamos e eu precisaria tomar uma decisão. Logo eu, geminiana. Não era dia de festa e nem dia de briga, era só um dia de decisão. Durante alguns dias eu pensei naquele nosso encontro e no que eu poderia oferecer, mas eu sabia que fugiria. Você também. Eu até tentei, era um bom plano. Mas não consegui fugir de você. Estranho, não? Porque você sempre esteve aqui.
Esteve aqui por meses conturbados, durante festas barulhentas e brigas dolorosas que nem se quer foi você quem começou. Você esteve aqui durante nossas conversas que assumi as mágoas e os traumas advindos de outros relacionamentos. Foi você quem me ensinou sobre paciência e sobre amor, foi você quem me escutou e me apoiou incondicionalmente mesmo que eu saisse por aí ficando com metade da cidade, e depois voltasse para ficar no seu colo e tudo bem. Para falar a verdade, se eu for pensar bem, não me lembro de uma festa se quer você não me pediu para ter cuidado e não exagerar. Não me lembro de uma única vez que você não se preocupou. Você sempre esteve aqui, mesmo que precisasse esconder seu ciúmes e falar de uma forma mais branda – como quem repreende uma criança mas não pode assustá-la para que ela não fuja. Hoje, é engraçado entender que sempre estive fugindo, enquanto você sempre esteve aqui. Sempre parado no mesmo lugar, apenas aguardando o momento de chegar.. exatamente como você fez aquele dia em que me deu aquele ultimato. Quem chegou foi eu, é verdade, mas foi você quem precisou partir para outro lugar e isso não sai da minha cabeça. Assim como você nunca saiu daqui.
Nunca saiu, nunca chegou, mas partiu com pressa aquele dia em que me deixou na porta do meu cursinho na quinta a noite. Como você bem sabe – já que nunca saiu daqui – a minha TPM chegou me deixando introspectiva e frágil, de modo que tenho repassado nossos passos, conversas e suas manias enquanto você sempre perambulou pela casa. Comecei a notar detalhes despercebidos, ações estranhas e situações engraçadas que eu nunca reparei de forma correta. Que eu fugia do óbvio, isso já ficou óbvio. Que você insistia com uma paciência ímpar também ficou claro como água. O que me rouba o sono agora é entender como faremos com essa sensação de que você ainda está aqui, mas saiu pela porta sem prescrição de volta? A partida do nosso encontro bagunçou mais certezas do que arrumou, e tudo bem: eu desliguei a música alta faz pouco tempo, e só agora estou abrindo as janelas e tirando a bagunça dessas festas loucas que eu tive por aqui nos últimos meses – e preciso confessar que ainda gosto de algumas e não dispenso uma cerveja gelada. Não posso pedir que aguarde a mudança, mas gostaria que sim. Não posso te deixar ir amor, você já faz parte de mim.