Não adianta me olhar por cima dos ombros com essa cara de ofendido, porque a afirmativa é válida; a casa é minha querido, você é só convidado. Não adianta se aprumar, querendo colocar os pés em cima da mesa de centro, espalhar suas coisas e colocar suas meias nas minhas gavetas. Não me incomodo que você venha aos finais de semana, que proponha programas interessantes ou então bagunce meus LP’S tentando escolher um novo som. Eu nem me incomodo se quiser se aventurar na minha cozinha. Só tenha em mente que a casa é minha e você é um convidado, e você precisa seguir minhas regras e respeitar meu silêncio e minhas vontades. Aqui não é casa da mãe Joana, e apesar da cara de doida eu odeio bagunça. Lembre-se disso.
Tente ter em mente que eu adoro nossos momentos, que gosto da nossa liberdade mas que odeio ligações longas ao telefone. Eu detesto agarração durante a tarde, prefiro que a gente apenas almoce juntos. Sobre teus problemas, eu adorarei ajudar se possível.. mas deixe os meus comigo mesma. Se eu precisar de ajuda, eu peço. Caso contrário, faça-se de burro e respeite minhas decisões. Continue sendo prestativo como sempre foi, sendo carinhoso como sempre é mas não espere que eu retribua as coisas por obrigação. Não faço o que eu não quero, não digo o que não posso e muito menos faço promessas. Cada um oferece o tem.. e eu tenho muita conversa, risadas verdadeiras e bagunça para oferecer. Se não gosta de confusão, é melhor dar meia volta. A porta da rua não é a serventia da casa, mas vai ter que servir. Eu não vou mudar. Não quero que você mude também.
Sobre minhas manias, eu preciso assumir que nem mesmo eu consigo entender ou lidar. As vezes, sumo dias e dias porque estou lidando comigo mesma e com a duvida cruel entre “faço outro quadro ou uma escultura agora?”. Me ocupo vivendo minha vida, planejando viagens e escrevendo inúmeros textos. Eu não me preocupo com semana que vem. Eu não te prometo semana que vem; eu só tenho o agora. E o meu agora nem sempre é agora; espero que você saiba esperar a hora. No mais, eu gasto meu tempo lendo, dormindo ou comendo. Ou tudo junto. Eu estou sempre correndo por entre uma coisa e outra, por isso aprecio tanto o silêncio e leveza. Por isso tatuei calma na mão para me lembrar sempre de respirar e de não cobrar demais de mim mesma. Não cobre também.
No que diz respeito ao resto, não há mais o que posso dizer; é tudo segredo meu. A casa é minha, os móveis, as decorações, os medos e os demônios. Não tente entender ou desvendar. Quando eu abrir a porta para você entrar na quinta-feira, naquele jantar que a gente combinou há duas semanas.. venha de alma livre e coração leve. Não implique com nada, não tente entender ou mudar. Aprecia o vinho, prova da comida e esteja presente; de alma e coração. O resto, a gente descobre vivendo. Um dia quem sabe você passe a ser mais do que convidado, mas até lá tenha em mente de que a casa é minha; e você, está apenas de visita.