Aos dez anos, você não se preocupa em ter um namorado. Aos quinze, só pensa em iniciar um relacionamento e aos vinte, puf, a única coisa que deseja é ter uma cerveja gelada no fim do dia e o sentimento de dever cumprido.
Depois dos vinte, tudo muda. Suas certezas se reorganizam, pessoas deixam a sua vida e a casa fica mais vazia do que de costume. Você começa a se preocupar menos com a quantidade de vezes que vai sair e mais com que horas você vai estar em casa, já que no outro dia tem que acordar cedo para trabalhar. Ou estudar. Ou os dois. Festas de família não são mais tão chatas, e boate acaba sendo um compromisso dispensável. Você começa optar por lugares onde pode ir e se sentar. E comer. Apenas beber já não é mais o foco. Você aprende a sair sozinha, mas agora dá mais valor a uma boa companhia. Não estou falando de sexo ou um rosto bonito, mas sim de química e boa conversa. Os finais de semana vão ser para dormir e visitar os avós. Levar o cachorro para passear também, caso você tenha um.
Seu dinheiro vai ser redirecionado para pagar as contas e as viagens que você sempre sonhou em fazer, e não uma calça jeans nova. Você vai aprender a amar suas roupas, amar seu corpo, se aceitar em sua própria pele e se sentir a vontade sendo você. Vai aprender a não depender de ninguém e, ao acordar cada manhã, vai sorrir para o travesseiro para espantar a vontade de chorar por ter que acordar cedo. Mas, diferente de quando você tinha quinze anos, você vai gostar de acordar cedo, porque sabe que é melhor. Vai aprender a lidar com isso. A canseira que vai bater no final do dia será o que vai te dar paz e gás para continuar trilhando seu caminho.
E quanto a parte amorosa, não pense que a canseira vai bater de uma forma negativa. Ela só vai chegar trazendo tranquilidade, que era o que você procurava desde os quinze, mas ainda não sabia o nome certo. Vai aprender a lidar com as relações, todas elas. Vai descobrir, como uma criança que vê uma pequena borboleta deixando seu casulo para voar, que cada relação é uma plantinha. E que você precisa aguar, precisa cuidar, afofar a terra e, vira e mexe, levar para tomar um sol. Vai aprender que a única coisa que nasce sozinha em jardim é erva daninha e, depois dos vinte, você vai estar cansada demais para lidar com picuinha sem graça. Sua vida vai ser tranquila e você vai agradecer por isso. Vai agradecer por não ter sete caras te ligando durante a semana e disputando sua disponibilidade no sábado. Vai gostar de ter só um cara para sair no final de semana, porque é o mesmo cara que vai te levar bolo na terça-feira, já que você teve um dia ruim. Vai gostar de ter para quem ligar. Gostar de ter alguém com quem contar, alguém que vai assistir Procurando Dory no cinema só porque você é uma mulher com alma de criança que adora filmes de animação.
Vai gostar de perceber em si mesma, que agora gosta de assistir futebol ou que aprendeu tudo sobre vídeo game – ou seja lá qualquer distração que ele goste – só porque se importa com ele. Você vai aprender a pensar no outro. A se importar com o que importa para os outros. Eu poderia dizer que isso é apenas a maturidade que vai bater depois de um tempo, mas prefiro continuar chamando de canseira amorosa, que ai a gente se aquieta. Tenho vinte anos e um coração orgulhoso, que não quer admitir – ainda – que vai se aquietar. Mas isso é uma boa coisa. O amor é como voltar para a casa depois de muito tempo. É aquele silêncio, aquele sentimento de paz. É a sensação de aconchego no escuro. E um dia, vai ser o sorriso de alguém. Tô doida para essa canseira bater logo.