Uma mensagem para o cara de agosto
Você sabe onde eu coloquei minhas meias? Sei que não é da tua alçada, mas você tem dormido no sofá durante o último mês e fico me perguntando se sabe onde as coloquei. Me lembro que na semana passada eu te pedi ajuda para trocar a lâmpada e você quebrou meu galho. Eu sou péssima em me concentrar em desenroscar a lâmpada e me manter em pé na escada, mas para você foi tranquilo. Do mesmo modo como eu consigo devorar livros em uma facilidade imensa, enquanto você briga com os números. Eu tenho mais paciência com sistemas lentos do que você, mas em contrapartida, seu humor matinal é bem melhor.
Ok, achei as meias – estavam dentro do tênis que você empurrou para debaixo da cama naquele dia que a gente se agarrou na sala e veio se empurrando pelo o corredor, você se lembra? Parece que foi ontem, mas se formos checar os dias, já faz um mês. Não faz essa cara de surpreso, eu sei que você sabe que tem matado seus dias agarrado a minha cintura e tomando do meu café. Não vou negar que gosto da tua presença, mas você precisa se decidir se sai do sofá para vir para o quarto ou deixa minha casa para não voltar mais. Não dá para continuar nessa história a banho maria, fingindo que não há uma necessidade eminente de decisão. O silêncio que invade os espaços entre nós só prova que temos muito a gritar; a questão é que eu não tenho muito saco, e você, não tem tempo. Como eu disse mês passado, meu sofá é tua terra santa e meu quadril é teu inferno, e você tem tentado se equilibrar entre eles, mas sabe que hora ou outra escorregará para um destino final. Agora não sei onde enfiei as chaves, você viu?
Querido, tire esse sorriso do rosto e os pés da minha mesa de centro; aqui não é tua casa, é meu reinado. E não, eu não me incomodo se você resolver partir. Não que eu seja insensível ou despretensiosa, gosto da tua companhia, mas para quem é dona do castelo, príncipe encantado é só mais uma visita. Se você resolver ficar, a gente ajeita as regras e diretrizes e passa a se agarrar com a mesma liberdade que experimentamos desde a primeira vez. Você sabe que quer, e eu sei que gosto e tudo bem. Ah, achei as chaves – estava mesmo em cima da mesa onde você costuma colocar. Eu já tô atrasada para a aula, e você precisa ir trabalhar. Levanta desse sofá e vai tocar sua vida, a gente conversa mais tarde; não adianta sorrir sem jeito e negar meu querido, eu sei que você vai estar aqui. Bom dia, viu?