Sobre a inconsciente vontade de agradar e o medo real de dizer não
Nós não fomos ensinadas a dizer não. Nunca. Nós fomos ensinadas a sorrir e a sempre dizer sim. A sermos úteis e práticas. Mulher tem que ser prendada, educada. Tem que saber cozinhar, cuidar da casa, dos filhos e ainda ser boa esposa pro marido. E não esquece o sorriso no rosto. E não esquece a simpatia de sempre estar disponível para ajudar. Coluna ereta, ombros para trás. E o sorriso no rosto.
Apesar da eminente independência das mulheres, o discurso que visa exigir e impor algo sobre as mulheres ainda perdura. No entanto, as coisas agora são mais veladas: ouvimos coisas como “a mulher tem que ser bem resolvida”, tem que ser “desapegada”. Na semana passada, eu estava na casa de um amigo e escutei um deles dizer que uma menina da faculdade dele era a maior mala, chata de galocha. Isso para não dizer outras coisas. Não prestei atenção no papo, até que um deles justificou o burburinho: ela não quis transar com ele, e isso parecia o fim do mundo naquela tarde. Aparentemente, assim como esperava-se das mulheres um tipo de comportamento discreto e prestativo, agora, espera-se um comportamento bem-resolvido e desapegado. A liberdade sexual que nasceu nos anos sessenta fez com que as mulheres ganhassem mais autonomia em suas decisões, mas até onde essa liberdade sexual é verdadeira? Se liberdade significa o direito de agir segundo o seu livre arbítrio, de acordo com a própria vontade, porque eu tenho que lidar com as expectativas alheias? Porque eu não posso ser muito bem resolvida e ainda assim decidir não fazer algo? É mesmo liberdade sexual ou uma ilusão disfarçada?
Complicado isso né? São discursos diferentes, mas que inferem uma mesma coisa sob a mulher: o medo e a obediência. Isso porque, caríssimas pessoas, o que é ser bem resolvida para vocês? Para mim, ser bem resolvida é ter liberdade de escolher, de ser quem eu sou e não ter apegos por coisas pequenas e insignificantes. Não sofrer com a falação desnecessária dos outros e nem com os padrões que tentam impor sobre mim. No entanto, para alguns homens com quem eu saí, ser bem resolvida é simplesmente dar no primeiro encontro. Veja lá, eu não estou dizendo que pessoas bem resolvidas não podem fazer isso. Claro que podem, eu mesma já fiz, mas existe uma diferença muito grande em eu me sentir à vontade para fazer isso e você me dizer que eu preciso estar à vontade para fazer isso, se não eu não sou “bem resolvida”. Amigo, o senhor paga as minhas contas? Porque até onde eu me lembre, não. E também, não está interessado em saber se a fatura do mês tá quitada ou não. Então, sinceramente, não vejo porque a preocupação. Consegue entender? Muitas mulheres lutaram para que a nova geração de mulheres pudessem ter a liberdade de escolher e fazer o que quisessem, e ainda assim, muitas mulheres usam isso de forma errada. Inconscientemente temos a vontade de agradar a tudo e a todos, e quando saímos com um cara, seja pela primeira ou quinta vez a gente tende a se preocupar com ele. Se o ambiente em que fomos tá bom, se ele gosta de comer ou beber primeiro ou então se o clima vai esquentar no final da noite e eu tô preparada pra tirar a roupa sem me preocupar com a minha depilação, no melhor estilo Dita Von Teese. Do mesmo modo que nos preocupamos em como tudo isso chega até ele. Em como isso se parece na mente dele.
Eu mesma já vi amigas chorando de desespero porque tinham medo de sair com caras porque sabiam que eles iam tentar algo e elas não sabiam como dizer não. Simples fofa, diga não. Diga não pelo o motivo que quiser ou simplesmente pelo o gosto de dizer não. Fofo, hoje não, eu não tô afim. Cara, hoje não rola, Áries tá entrando em Vênus e não é bom sinal. Querido, hoje não dá eu tô no meu período fértil. Seja pelo o que for, diga não quando quiser dizer não. As pessoas, e sobretudo os homens, principalmente nessas situações em que eu falei, vão tentar te convencer do contrário. Vão tentar te convencer de que “você sabe que quer”, mas se você realmente quisesse, você saberia. Não compra essa. Não compra esse discurso e nem tenta se convencer de que talvez você queira. Se quiser dar, dê. Se não quiser, não dê. Mas não deixa nenhum discurso alheio te tirar o direito de escolha. O medo de dizer não existe, porque inconsciente temos essa vontade latente de agradar e sair do papel de “menina perfeita” é doloroso, mas necessário. Não seja mais um fantoche, assuma o papel de protagonista e aja apenas sob sua vontade. O medo sempre vai existir e a vontade de ser perfeita vai ficar latindo dentro do seu ser diante de cada situação, então respire fundo e siga seu extinto. O não pode ser o melhor caminho para sair de uma furado e chegar até o que você quer. Que é o que realmente importa.