Olhá lá ele de novo

Eu juro que minha felicidade em revê-lo era só isso, felicidade em revê-lo. No entanto, para o meu desconforto e nem tanta surpresa assim, logo que nos encontramos pela terceira vez naquela festa de cerveja da cidade ele veio com o mesmo papo manjado de sempre; que me queria de volta. Que tinha terminado, que estava infeliz. Que eu era o amor da vida dele. E que ele me queria de volta – ele não cansava de repetir.

Um ano e meio para mais tinha se passado. Não nos víamos a meses. Eu nem se quer me lembrava do sorriso dele, mas ele continuava igualzinho – exceto pelo o corte de cabelo e a barba mais aparada. A cara de sem vergonha, como sempre, ainda continha a mesma confiança. Ele me contou histórias, falou sobre como sentiu minha falta e filosofou de como ele encarava o tempo que estávamos longe um do outro como uma preparação para quando nos encontrarmos. Confesso que o script não me comoveu e nem me assustou, era sempre a mesma ladainha. Eu já estava acostumada.

Bebemos cerveja. Encontramos meus amigos. Bebemos cerveja. Ele falou da vida dele. Encontramos os amigos dele. Bebemos cerveja. Ele perguntou sobre a minha vida. Eu contei as novidades. Bebemos cerveja. Rimos bastante. Bebemos cerveja. Ele disse que jamais tinha me esquecido. Bebemos cerveja. Eu disse que não confiava nele. Bebemos cerveja. Nos abraçamos. A única verdade durante todas aquelas horas era que cerveja artesanal é cara e que a saudade era recíproca. Não nos beijamos. Saímos para comer.

Ele disse que não desistiria. Eu sorri.

Como já dito acima, a noite foi regada a muita cerveja e depois, a sushi, e exatamente como um ano e meio atrás – quando ainda estávamos juntos e felizes – ele me deixou na porta de casa. O carro dele ainda cheirava a hortelã, e o playlist era o mesmo. As piadas agora estavam mais maduras, e eu também. Ele me pediu um beijo, e eu sai do carro. Bati a porta com a certeza de que o tempo passa e eles sempre voltam. Nem precisa ficar olhando para trás, quando você menos esperar.. olha lá ele de novo.