O nome dele era Gabriel
Esta poderia ser mais uma daquelas histórias que a gente inventa numa tarde qualquer, durante uma conversa com as amigas para contar as loucuras que já passou na vida. Quando se trata de conhecer alguém, com certeza passei por poucas e boas. Com certeza passei por coisas tão absurdas que levantariam dúvidas justificáveis, é claro. No entanto, esta história não tem nada de ilusório, de inventado e, muito menos, de calculado. Gabriel era bem real. Era amante de comida japonesa, gostava de ler, amava a medicina e morava bem perto de mim – mesmo que a gente nunca tivesse tido a chance real de se trombar na vida. Ironicamente, o encontro ainda assim aconteceu, só que online. Por ironia de um destino com um senso de humor que por vezes não entendo, eu o conheci em um site de namoro. Eu tinha acabado de terminar meu relacionamento de alguns anos e minha amiga insistiu que eu fosse espairecer minha saudade em outros ares. E quem diria; a saudade passou logo depois que ele apareceu. O assunto? Sushi. Ele amava tanto a culinária japonesa quanto eu, logo, dá-lhe temaki, dá-lhe salmão.
E Gabriel, meu Gabriel, era incrível. Ele era uma dessas figuras caricatas, bem raras, que a gente acha que só vê em filme – mas acreditem, existe mesmo. Eu poderia citar inúmeras qualidades que pessoas legais tem: primeiramente, são legais. São doces, a energia é incrível, a conversa flui e a amizade desabrocha e quando você dá por si, o sentimento já veio. E foi exatamente assim. A gente se encaixou de uma forma tão visceral, e tão nossa, que comecei a acreditar em sincronicidade e destino. Até paguei um combinado de sushi para minha amiga, afinal, ela merecia. E Gabriel.. bom, Gabriel seguia possuindo um coração do tamanho do mundo e sempre com uma vontade imensa de mudar o meio que vivia, e a si mesmo. Tocava a vida numa garra monstruosa, e se entregava do mesmo modo às coisas que achava igualmente reais e intensas. Eu nunca o vi fugindo de uma briga, nunca o vi fugindo do destino. Até na dor e no desânimo, ele era grande. Ele era humano e sincero. Nossa amizade, que começou da forma mais improvável, foi permeada de muito amor e planos lindos no começo, mas os desencontros da vida nos fizeram mais duros e com cascas mais grossas, no final. As brigas foram imensamente dolorosas, assim como nosso amor. Aprendi de uma forma silenciosa e difícil que mentes grandes, com corações e vontades grandes, também precisam de um grande esforço para se entenderem. Se aceitarem. Ele, me amava como eu era: intensa, indecisa e meio louca. E eu amava a paz que ele trazia. O cheiro de café no final da tarde, e aquele barulhinho de chuva. Divergimos em pontos importantes. Compramos brigas por quem não merecia. Até hoje isso rende pano para manga – eu, sempre aos berros. Ele, com um sorriso.
E da mesma forma que inúmeras vezes tivemos oportunidades de nos matar, tivemos também outras inúmeras de nos amar e reafirmar tudo o que significávamos um para o outro – mesmo que ainda fosse tudo muito confuso e lúdico. A distância faz isso com você: te dá essa sensação de apego e conforto, mas te tira exatamente a mesma coisa. Percebi que tudo de ruim que permeou nossa convivência, depois de um tempo, deu lugar a uma saudade gostosa e à confirmação de que certas almas têm que se esbarrar na vida – mesmo com toda a distância e com toda a divergência de opiniões e motivos. Ele me fez maior, mais humana e gentil, e eu espero ter feito Gabriel descobrir coisas boas em si mesmo. Hoje em dia a gente segue tentando se encontrar, com a promessa de que destino é destino, e de que a gente só assina embaixo. Dentre as coisas que ele me ensinou – como dedicação, responder às pessoas na hora certa no Facebook e que medicina é um curso lindo – amar o outro pelo o que se é, foi a melhor e maior delas. Ele sempre disse ser grato ao destino por ter me conhecido, desde o primeiro momento. Espero ter a chance de agradecê-lo também.