O nome dele era José

Ele me ganhou no cansaço. Deus bem sabe que eu teria ido embora se tivesse conseguido, mas antes que eu chegasse à porta sempre havia alguma desculpa ou discussão armada que me fizesse virar para escutar. Não que eu ache isso sexy ou encantador, mas tem seu charme. Hoje eu acho a persistência dele linda e não irritante. A fase irritante passou – embora ainda haja dias em que eu quero quebrar algumas coisas ou ficar sozinha. José, assim como muitos outros que um dia enfiaram uma ideia na cabeça, seguiu em frente em seu propósito – que eu ainda não sei qual é, mas já aprendi a respeitar que nem tudo está sob controle.

José persistiu por um espaço, lutou pela confiança e quem diria, conseguiu a chave da porta. Não que eu tenha dado a chave certa… eu dei milhares para ele, mas… eu disse que ele era persistente né? E dedicado, e amoroso e atualmente, está beirando o pai da paciência. Ele, que sempre se mostrou para mim como uma criança ansiosa por descobrir, hoje se mostra um homem que quer aprender. Pede desculpas quando erra, presta atenção quando alguém fala e só quer entender. José quer uma passagem fixa para ficar sentado na janela, me observando pintar, bordar ou ler livros. E ninguém nunca quis só isso. Mas ele quer. Desisti de entender motivos, quando ele mesmo não sabia dizer o que porque.

Ele gosta de ler o que eu escrevo, escuta as músicas que indico, se preocupa com minha rotatividade no pronto-socorro e nunca cansa de me perguntar se eu estou bem. Fazemos inúmeros planos que dificilmente são executados, demoramos dias para nos encontrarmos, mas sempre conversamos muito. E contamos muito. E sentimos muito. Ele é um porto seguro no meio do caos, e a sensação de paz para alguém que sempre gostou do barulho. Se bem que, ultimamente, eu tenho apreciado o silêncio. Ainda mais se o silêncio vem acompanhado dele, deitado numa cama e olhando pro teto. Eu sempre durmo no final das contas, mas durmo em paz. E nada paga a sensação de leveza que ele me traz. Mesmo que ele me irrite no restante do tempo. E ele me irrita. Mas ele me ganhou no cansaço, e eu estou cansada de me irritar. E de brigar. Sinceramente, nos últimos tempos, eu só tenho tido vontade de tomar cerveja e comer pizza. Ou tomar café e falar da vida. Ou tomar sorvete. Ou só dormir. Qualquer coisa é melhor do que brigar com ele, porque ele nunca desiste. Nem de mim, e nem da briga.

Eu tive que desistir então: de brigar, de resistir e de tentar entender. Todo o meu desgosto por pessoas do signo de áries foi atualizado, ainda mais com o ascendente em virgem e a lua em câncer. Ele é terrível quando quer, mas comigo ele é um amor. E é inteligente, curioso, independente e até altruísta. Quem diria que eu veria um ariano altruísta e dedicado, mas eu vi. Deve ser culpa do ascendente, ou da lua, ou do meu sol em gêmeos que fez ele ver por aqui algum motivo interessante para aportar e observar a vista. Eu sempre disse a ele que não poderia prometer nada. Ele nunca pediu por nada. Eu insisti em dizer que não poderia ficar. Ele disse que eu só precisava voltar quando pudesse. Por fim, disse que eu era um furacão. E ele disse que sempre quis ver um passar. É como eu falei, ele me ganhou no cansaço.

Espero ter ganhado ele também.