O cara do café do centro

Te confesso que eu ainda estou tentando entender tudo o que aconteceu naquela viagem de fim de semana, e ainda não fui no médico descobrir o que posso fazer para lidar com essa alergia a canela. Quase que eu morro tomando um cappuccino em uma tarde de sábado, mas isso não me preocupa. O que me preocupa é a distância e essa saudade maldita que eu tô sentindo de te ver sentado naquela mesa do café do centro, sorrindo para mim como quem encontra o amor da sua vida. Talvez você tenha encontrado, quem sabe. Teu sorriso não entrega toda a verdade, só me mostra promessas. Promessas essas que eu quero ver serem cumpridas, e muito bem vividas meu amor.

Se eu fechar os olhos, eu ainda consigo escutar no silêncio aquelas inúmeras músicas eletrônicas tocadas em ritmo de blues acústico e me lembro de você falando como meu olho enche de água toda vez que minha mente viaja. Você nem liga se no meio da conversa eu pareço passear no meu paraíso mental, e volto do nada com uma falação incessante sobre algo novo que a roleta russa da minha mente ofereceu. Você não liga se eu sou intolerante a lactose e ainda assim procuro por tudo o que é doce para comer, ou misturo três sachês de açúcar em um café de três dedos. Não sei se você estava reparando isso tudo, como eu reparei sua altura, seus cabelos e essa sua barba. Eu nem sabia que sua mão se encaixava na minha e seu cheiro me lembrava casa, me lembrava lar. Eu não vou dizer que sabia que eu teria uma vontade louca de ficar, mas sabia que seria difícil voltar. O ritmo já voltou ao normal por aqui, mas eu só consigo lembrar daquele café no centro e do silêncio amoroso que se instaurou entre nós. Nós dissemos tantas coisas que nem precisamos dizer nada.

O cappuccino doce hoje tem sabor de saudade e vontade, e eu me pergunto se comi tudo que tinha disponível naquele dia no menu. A gente traçou uma história apaixonada e planos divertido sobre casamentos e crianças, e sobre dietas sem carne e leite. E sobre casas, sobre especializações, futuro e cappuccinos sem canela – porque canela não pode. Assim como a distância e a tortura da saudade também não podem, mas continuam por enquanto. Minha mente segue amante de detalhes específicos como as mesas de madeira, paredes claras com quadros vintages e um pé de acerola no meio do salão. Ela se lembra das músicas, se lembra do cheiro e se lembra do gosto. Meu coração só lembra de você, e da saudade. Lembra do seu toque, do seu beijo e do seu sorriso cheio de promessas. Eu não sei se posso pedir mais alguma coisa depois de tudo que eu ganhei naquela viagem do final de semana, mas se eu pudesse, pediria mais um cappuccino ao seu lado. Mas sem canela, por favor.