Nem todos os porres da minha vida apagam você de mim
São quase quatro horas da tarde e até agora só consegui tomar dois litros de água e um pouco de café sem doce. Acordei depois do almoço, me arrastando para fora da cama para que a ressaca começasse a se agitar dentro de mim e me deixasse. Passei tantas vezes por isso que já sei meu ritual de cor, o que não o torna mais fácil ou agradável. Meu celular tá desligado, o que me acalma já que não terei que lidar com possíveis julgamentos ou condenações pela noite passada. Bebi demais em plena quarta-feira, e como sempre, o porre foi sobre nós.
Abri o youtube e coloquei aquele álbum do tributo a Skank por outras vozes para tocar, porque eram as músicas que embalavam nossos momentos. Estou mais piegas e emotiva que o normal, mas eu sei e você também sabe que é só o resquício da ressaca maldita e da leseira que o álcool presente naquelas doses de cachaça oferecem. A dor no estômago por ter bebido mais do que podia eu abrandei com um remédio para úlcera, e o cheiro de álcool eu tirei com um bom banho e desodorante. Os cabelos ainda estão molhados, batendo nos ombros, maiores do que há um mês atrás quando os cortei bem curto. Eu não vomitei dessa vez, mas pus para fora todo os meus sentimentos e a saudade dolorida que sinto de você e de nós dois – não para você, é claro. Os garçons daquele bar mereciam um diploma de psicologia pelos os conselhos e a paciência ímpar que tiveram comigo. Eu sei que tudo o que eu bebi ontem paga provavelmente o aluguel de um deles, mas não importa. Gosto de pensar que as pessoas se importam assim como eu ainda me importo com você. A ressaca é uma amiga antiga e hoje sei lidar com ela.
Tomei um remédio para enjoo e para a dor de cabeça, e sei que depois da seis da tarde uma fome sutil vai começar a brotar dentro de mim, assim como a fome que tenho por você. Mas sei que não posso matá-la. Hoje eu vou seguir apenas com a água e o café, e quando o cansaço me abater, eu vou voltar para a cama com a certeza de que acordarei bem amanhã – mas ainda acordarei sem você. O que é bom, no final das contas. A gente sabe que bebida faz mal, que o álcool mata tanto quanto câncer mas nada disso se compara do que ter um relacionamento com você que era tocado em uma briga de egos constante. Você me maltratava psicologicamente tanto quanto a cachaça maltrata meu estômago, e embora eu sinta saudades, eu sei que prefiro a ressaca do que a o aperto do coração causado por você. A dor, eu resolvo com remédio. Você, eu ainda não sei como resolver.. porque mesmo depois de todos esses porres, você ainda segue aqui. Mas preciso te dizer amor, que entre a cachaça e você, eu tô sempre bêbada. Uma hora a ressaca passa de vez, e você também.