Lidar comigo inspira cuidado
Quem dera eu pudesse ao menos pagar de mais calma ou desapegada. Deus e todo mundo sabe que eu gostaria de ser mais simples, mas se o próprio Deus fez me fez nervosa, quem poderia me fazer falar menos? Eu sei que apesar da cara de boa menina e dos inúmeros livros de auto-ajuda, eu não sei bem lidar comigo ainda. Que dirá você, que acabou de chegar cheio das vontades e não sabe nem onde colocar os sapatos. Eu sei que posso parecer louca, meio desequilibrada e demasiado passional, mas sou boa gente. Amor, acredite em mim, eu sou incrível. Você só precisa de paciência, bom humor e uma dose de carinho. Aposte no vinho também, porque lidar comigo inspira cuidado. E paciência. Muita paciência.
E não falo isso pelos os rompantes de irritação ou acessos de raivas em exponencial, ou pela maneira que tenho em problematizar t-u-d-o… sempre. Não é por isso, ou talvez não seja só por isso. Também tem a mania de comer massa todas as sextas-feiras, a meditar durante quinze minutos todos os dias as cinco e vinte da tarde ou como falo com as plantas. Sim, eu falo com as plantas. E converso sozinha comigo mesma. Ascendo incensos pela casa, faço Yoga na cozinha e não escuto música internacional no celular. Nunca. Odeio longas conversas ao telefone. Aplicativos de celular me irritam e eu tenho fissura por fotos, embora odeie posar para uma lente. Leio três livros de uma vez. Tenho mania de nunca comer o último pedaço do bolo. Danço Beatles quando quero sonhar. Pode parecer gracioso à início, mas é realmente preciso cuidado; eu me fecho quando preciso de espaço, não sei lidar com vozes alheias falando junto a minha e não sou boa anfitriã quando estou de mau humor – o que é quase sempre.
Lembre-se bem de minhas palavras e respeite as placas de cuidado que você encontrar pelo o corredor e escadas até a minha casa. Não tente achar que poderá me dobrar com chocolates com caramelo ou pizza durante madrugadas. Eu sei ser dissimulada e falsamente simpática quando o interesse se apresenta, mas péssima atriz depois do décimo minuto de encenação. A política nunca passa pela porta, mas o bom humor às vezes sai. É necessário jogo de cintura para perceber a alteração ou o modo como a lua não afeta só as marés, como também meu cabelo, meus sentimentos e minha disposição. Àqueles que vivem sua vida de maneira própria tem dificuldade em receber visitante, e mais ainda de explicar a eles como são. Eu sou como sou, não tenho explicação para as manias e tiques, e os turistas são sempre tão interessados em perguntas… e você não vai conseguir que eu responda.
Perguntas sem respostas, é o que você mais terá por aqui. Espero que goste de estudar. Espero que saiba entender e perceber. E mais ainda, aprender. Porque eu sou esse romance russo sem tradução que encanta pelas cores e caricaturas nas imagens boçais mas tão profundas. Somos mais parecidos com aquilo que admiramos do que imaginamos. Por isso é necessário ter cuidado ao lidar comigo, pois eu provavelmente não saberei lidar com você. Mas não vou desistir – gosto de aprender sobre o que não sei.