Foi como a primeira vez
Semana passada iria fazer seis meses que eu contava por aí que a gente tinha se acabado em uma briga silenciosa, por conta de uma confusão boba. Não nos falávamos há meses, eu não tinha notícias suas e muito menos sabia de suas andanças por aí. Estava convicta de que nós dois tínhamos nos acabado nas palavras duras que trocamos na confusão boba, que citei acima. No entanto, em uma ironia do destino sacana que eu tanto relato em meus textos, nós nos encontramos em uma festa caída em uma quarta-feira. Eu não esperava te encontrar. Você não esperava me encontrar. Mas aconteceu.
E foi como a primeira vez.
Primeiro veio o susto. O coração veio parar na boca, eu respirei apertado por alguns segundos. Imaginei um vexame, digno de um filme. Ia rolar barraco, discussão ou provavelmente algum comentário desnecessário que me faria mandar minha falsa calma para o inferno. Mas, mais uma vez – ironicamente – você ficou tão surpreso quanto eu. O silêncio pôs a mesa, e a gente se serviu a vontade. Em seguida nos atrapalhamos tentando nos cumprimentar como se os últimos anos não tivessem existido. Deve ter sido ridículo, eu imagino. Nossos amigos devem ter rido internamente. Por último, e não menos imprevisível, a saudade pediu licença para entrar. Eu não tive como impedir, e você muito menos parecia incomodado.
E foi como a primeira vez.
Não havia certezas. Não havia passado. Não havia nem saudade naquele momento. Não havia mágoa, e nem aquele aperto inquieto no coração. Foi como se a gente tivesse desacelerado no tempo; éramos só duas pessoas comuns rindo de coisas banais outra vez. Sem toda aquela carga emocional pesada que a gente carregava. Sem todo o julgamento que nossas escolhas acarretaram até aqui. Éramos só nós dois outra vez; foi apaixonado, foi leve. Não me lembro de ter me divertido tanto em meses. A gente se encaixou e não se soltou mais. A madrugada seguiu solta enquanto nos dois desvendávamos pela segunda vez todas as coisas interessantes e banais a nosso respeito. Você implicou com o fato de eu nunca ter estourado com você. Eu enchi o saco sobre o fato de você ter ideias condizentes com uma mentalidade de doze anos. Comemos pizza, jogamos pôquer, nadamos e no final da noite, eu terminei cansada demais para discutir sobre nós dois quando o assunto surgiu na mesma. Você também não rendeu caso.
E foi como a primeira vez. Nem de longe nós nos parecíamos com aqueles adolescentes malucos e altruístas que a vida juntou anos atrás, mas nos reconhecemos como dois adultos. Dispensamos a mesma ladainha de sempre, aprendendo a nos apegar apenas ao momento. Do que tinha sido, não poderíamos mudar. Do que viria, não sabíamos. E como na primeira vez que nos encontramos, a lua se fez pano de fundo, e o silêncio foi nosso cúmplice. Bastou para nós naquela noite.