Flores Brancas
Enquanto ando pelas ruas desta cidade, pego-me pensando... Às vezes em coisas inúteis, às vezes em coisas interessantes, às vezes em coisas impossíveis de se conquistar.
Alguém passa ao meu lado, pego-me pensando se esta pessoa sonha acordada, assim como eu; se consegue ver este mundo da maneira como eu vejo.
Para mim, estas ruas não sãos apenas ruas. São caminhos.
Caminhos que, em cada bloco, em cada parede, em cada buraco e em cada grão de areia, carregam uma história.
Muitas histórias, na verdade.
Histórias felizes, histórias tristes, histórias de amor, de ódio, de paz e de guerra. Enfim, todos os tipos de história.
Começo a imaginar a história de cada pessoa que passa ao meu lado, de cada parede ao meu redor, de cada centímetro do solo em que piso.
Eu não costumava ser assim. Na verdade não me importava muito com o mundo ao meu redor.
Nunca me importei com as pessoas que passavam; nunca me importei com os cães, nem com os mendigos ou com qualquer outra coisa além de mim mesmo e do meu destino.
Talvez todos pensem da mesma forma. Todos os dias, essas pessoas passam por diversas ruas, andam por toda a cidade e não percebem quanta coisa acontece bem ao seu lado.
Não percebem aquele pássaro no céu azul, logo acima de si mesmas; não percebem o sorriso de alguém bem à sua frente.
Não enxergam a vida e nem a beleza que viver nos proporciona.
Eles andam como mortos.
E o que fazer para que isso aconteça de outra forma? Afinal, qual a razão de se olhar para o lado? Qual o motivo para perceber sorrisos, formas, cores, e tantas outras coisas, se o nosso objetivo, nosso destino está no final desta maldita rua?
E por que diabos eu penso em tanta coisa? Por que eu queria tanto que eles vissem o que eu vejo?
Logo me vem a resposta. Mas esta não me vem como um simples pensamento.
Sinto meu coração palpitar. Lembro-me que ele costumava palpitar desta mesma forma, e que foi numa destas ruas onde ele palpitou assim pela primeira vez.
Eu estava mais uma vez como todos eles, tentando alcançar o meu destino. Pensava apenas em chegar em casa e tomar um bom banho.
Foi quando, de repente, prestei atenção em um singelo sorriso.
Aquela troca de olhares, aquele frio na espinha, e aquela forte batida no coração. Foi assim o primeiro instante que eu te vi.
Meus olhos se abriram desde então, e este mundo se tornou outro. Foi então que realmente comecei a viver. Foi então que algo, além de mim mesmo, começou a se tornar importante.
Eu queria ver esse sorriso todos os dias. Queria poder te sentir e te ouvir o tempo inteiro e poder passar cada minuto de todos os meus dias ao seu lado.
Lembro-me de todos os momentos bons que passamos juntos, e muitos deles foram nestas ruas, ou melhor, nestes caminhos.
Vivemos intensamente, vivemos o quanto pudemos, e aproveitamos tudo um do outro.
E aqui estou eu de novo, andando sozinho nestas ruas, nesta tarde de chuva, pensando comigo mesmo.
Pensando no que poderíamos ter feito de melhor, que eu poderia ter acertado mais, ou errado menos. Pensando em como poderia ter te feito sorrir mais vezes, afinal, eu sempre fui apaixonado por esse sorriso.
Finalmente chego ao meu destino.
Peço a Deus que cuide de você e que, onde quer que você esteja, possa continuar me amando como te amei. E que eu nunca mais veja este mundo de outra forma.
Deixo agora minhas fúnebres flores brancas. Aquelas de que você tanto gostava.