Entre portas
Confesso que foi complicado escrever. Confesso que foi difícil sentar à mesa e ter que imaginar uma porção de palavras que combinassem o suficiente com a sua personalidade. Como tantas outras vezes, peguei-me sem inspiração. Mas, também como em tantas outras vezes, as palavras dançaram em minha mente inquieta e não me deram sossego até eu assumir que não sabia por onde começar.
Então eu comecei de qualquer lugar. Abri uma porta e entrei.
Se a gente não sabe de onde partir, tem que ao menos que saber onde quer chegar. E eu sei bem onde quero chegar com as palavras, e o que busco com elas. Como um presente simples e muito bonito, entrego-as a você, que tanto faz questão e gosta de escutá-las. Que tanto se interessa e preza por elas. A você, que as respeita. Eu poderia citar mil palavras que trocamos ao longo dos nossos dias, mas nenhuma faria jus à liberdade latente que existe por aqui. Nenhuma saberia explicar como, no nosso caso, dois mais dois são cinco. No espelho, nosso reflexo nunca é o mesmo, mas parece fazer sentido. Desafiando a lógica – para aqueles que gostam de números – a gente se dá bem demais. Essa foi uma das coisas que me chamou atenção. Essa é uma das coisas que me rouba um sorriso simples e sincero.
Você, que tanto adora aprender sobre particularidades e detalhes de uma personalidade, surpreende-se na leveza de um carinho ou dois. Os gestos parecem ainda te encantar, como uma criança que está descobrindo como andar com os dois pés. Você aprendeu a viver sua vida de uma maneira muito própria, assim como eu, e acredito que quando outra pessoa aparece te mostrando que talvez existe um ponto de vista de um outro mundo, isso chama a atenção. O incômodo inicial dá lugar a uma ligeira irritação e depois a curiosidade. Depois, vem a afinidade e o momento que eu chamo de “então”. Foi assim que aconteceu com você. Dentre as inúmeras novidades que o segundo semestre de um ano decisivo oferecia, você foi uma delas.
Eu poderia citar os inúmeros questionamentos que surgiram durante as conversas intervaladas por risadas e dinâmicas de desenvolvimento pessoal, mas acredito que nada faria jus aos um e oitenta e sete de altura e toda aquela confiança palpável que você divide com as pessoas. Quem sabe, até com um pouco mais de esforço, eu poderia tentar explicar sobre a tensão existente e assumir que papo intelectual às vezes acontece e às vezes não. E aconteceu. Você, que é tão forte e tão cheio de si, não parece se dar conta de como consegue arrastar tudo ao seu redor. Não se dá conta da confiança que transmite, da paz que carrega. É engraçado observar, com a liberdade que temos, que os questionamentos mais óbvios que poderíamos fazer, fazemos. E que as coisas mais difíceis que precisávamos fazer, já fizemos. O pesado não te assusta, te motiva. O que é fácil te desanima. Você espera muito porque se esforça muito pra isso. E como te repeti mil vezes, insisto agora: isso não é comum. Cada ser humano é um universo particular, e o seu é bem interessante, por sinal. Existem pessoas engraçadas, pessoas inteligentes, pessoas chatas e pessoas difíceis. Você, eu ainda não decidi em qual se encaixa, mas comum com certeza você não é.
Sigo abrindo portas e fechando-as, a medida que andamos em busca de nossos sonhos e desbravamos os caminhos que tanto queremos e buscamos. Com portas que fechei, deixo para trás a reserva e as descobertas que já passaram pelos os nossos olhos e tato. Já sobre as portas que estou abrindo, só posso dizer que a cada passo é uma incógnita que se apresenta e que me encanta. E apesar do texto falar sobre as portas que vamos abrir, a história não é sobre elas, mas é sobre o que acontece entre elas. Sobre nós dois, e à dois. Sobre você.